Na qualidade de brasileiro nordestino, confesso que atravessar o mês de junho sem participar dos festejos mais populares e característicos da nossa região é algo surreal. Além de ser a nossa cara, de apresentar-nos ao mundo como realmente somos, os festejos juninos se configuram numa das maiores indústrias do turismo do nosso país. Como bem cantou o Trio Nordestino: “ele veio do fundo do quintal – hoje é maioral dos palhoções – tá valendo milhões (música – Forró Pic plic plá).
Pois bem, atendendo a uma recomendação do Ministério Público de Pernambuco, em que sugere a todos os prefeitos do nosso estado, entre outras coisas, o não acendimento de fogueiras pela população em locais públicos e privados, em virtude da pandemia do novo coronavírus, a prefeitura local – através do decreto 39/2020 – acatou a recomendação e optou pela proibição das fogueiras em toda circunscrição territorial do município da Vitória.
Até aí, tudo bem. O momento requer compreensão, solidariedade e união de todos. Mas, no entanto, há vários anos, observa-se, nesse sentido (fim das figueiras), uma narrativa com várias motivações – sobretudo nas redes sociais – que reivindicam pelo fim das tradicionais fogueiras nos festejos juninos.
A origem dessa tradição não é nova. Remetem-nos à mitologia grega numa passagem que envolvem os deuses Adônis, Afrodite, Perséfone e Zeus. Já com relação ao calendário litúrgico da Igreja Católica a fogueira tem seu fundamento na história do nascimento de João Batista. Foi justamente através de uma fogueira que Santa Isabel “avisou” a Nossa Senhora que o menino havia nascido. Esse que mais tarde se tornou um dos santos mais importantes da religião católica (São João). Com a chegada dos portugueses em nossas terras, a partir de 1500, os padres jesuítas cuidaram de introduzir essa tradição aos nossos costumes.
Ao povo do Nordeste coube a maior devoção aos santos cultuados no mês de junho. Presume-se que foi justamente pela coincidência com as abundantes chuvas do período. Num misto de fé e capricho da natureza – ao longo do tempo – os nordestinos tornaram-se devedores das graças recebidas. Com efeito, agradecer e celebrar tornou-se natural. Imagino que foi nessa mistura, com a imprescindível verve sertaneja dos poetas, que forjamos esse verdadeiro patrimônio cultural que atende pelo São do João do Nordeste.
Na figura do maior propagandista da nossa terra e do nosso jeito, Luiz Gonzaga, foi o maior de todos. Devemos sim aceitar e entender que por força maior o São João da nossa terra, esse ano (2020), será comemorado de forma atípica.
Tudo isso vai passar e como bons nordestinos fortes, corajosos e devotos já devemos começar a nos preparar para os festejos de 2021 no qual, com toda certeza, cantaremos a todos pulmões: “ a fogueira tá queimando em homenagem a São João, o forró já começou, vamos gente, rapapé nesse salão…..”
Nosso maior distintivo cultural, as festas juninas e julinas; sem as folgueiras não tem garbo.
HURRA, HURRA AOS NOSSOS HÁBITOS CONTUMAS