Um exemplo de cidadania que vem de Goiana – por Marcus Prado

Um Município com uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2015, de 78.618 habitantes, carrega, ao longo dos 451 anos de sua rica história, plena de pioneirismos, uma tradição singular no mapa de Pernambuco, é a que reúne um sentimento incomum de orgulho de pertencimento entre os seus filhos. O subjetivo sentido de pertencimento, tão necessário ao ser humano e ao meio de sua existência, em relação à noção de patrimônio e identidade cultural dos seus habitantes, tem sido uma marca entre os que nasceram ali, uma qualidade essencial dos goianenses. Dou testemunho, baseado nas visitas que tenho feito à cidade, ao longo de muitos anos, para as pesquisas, não só iconográficas, sobre o seu precioso acervo de arte barroca e sua riqueza arquitetônica. Nunca me faltou acolhida nos percursos pela cidade e demonstração de orgulho pelo berço natal. Eles sabem que a nossa história nasceu ali, nossas conquistas e ideais libertários. Que somos todos devedores do seu espírito de pioneirismo. No desembargador e poeta Josué Sena reside a síntese desse orgulho goianense. É dele a advertência:”Eu tenho pena de quem não nasceu em Goiana”. Na cidade, em certas cerimônias solenes, canta-se o seu Hino oficial como quem canta uma oração.

Seguindo a definição de Platão, PAIDEIA, (Jaeger tem sido para mim um mestríssimo a vida inteira), é “(…) a essência de toda a verdadeira educação, Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito (…)” Sabemos que, diante da nossa realidade social esse desejo é quase utópico, mas Goiana, hoje integrada à Região Metropolitana do Recife, tem-nos dado exemplos de uma almejada consciência de orgulho e cidadania. Não por causa do poder público, historicamente omisso, quando não desinformado, mas por causa do espírito motivador dos que nasceram e vivem nessa terra. Não sei de onde partiu, entre eles, esse compromisso do fortalecimento da cidadania, que tanta falta faz, por exemplo, ao Recife e a Olinda, para citar apenas duas cidades pernambucanas. Sabe-se que boa parte do patrimônio histórico edificado das nossas cidades antigas acha-se degradado. Não somente por falta de recursos orçamentários do poder público, que são exíguos, para preservar a sua Cultura, mas por inexistir entre elas uma liderança coletiva de cobranças e colaborações individuais. Já foi dito que o Recife possui o centro urbano histórico mais degradado do País. Não é exagero. Até um barraco de família sem teto construiram na Praça da Independência, no centro da “ cidade capital do Nordeste”, permanecendo durante mais de uma semana, perto do edifício secular do velho jornal Diário de Pernambuco, que está igualmente a exigir imediatas ações de preservação (Foi tombado como Patrimônio Histórico Edificado de Pernambuco. Fui o Relator do processo).

Goiana tem sido a cidade mais possuidora de Patrimônios Vivos de Pernambuco, a que possui as mais antigas igrejas do Brasil, o segundo Instituto Histórico do País, hoje funcionando na casa onde viveu o poeta e acadêmico da ABL, Adelmar Tavares. Essa casa de pesquisa e de muitos saberes locais é de fechar com chave de ouro a crônica do orgulho goianense dos nossos dias. Tudo se deve a Harlan Gadelha, jovem liderança cultural de Goiana. Com o seu espírito de cidadania e pertencimento, ele conseguiu reunir a população para tirar do esquecimento e das quase ruínas a casa de Adelmar Tavares e a transformou na sede do Instituto Histórico. Tamanho é o esforço, aliado à sua equipe, que pretende reunir num grande debate, na Casa mais goianense de Goiana, em 2020, dirigentes de instituições congêneres de várias partes do País, para o qual espera contar com o apoio do Governo do Estado, Secretaria de Cultura/Fundarpe.

Marcus Prado – Jornalista

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