Nas festividades juninas usar dinheiro público para pagar cantores de “músicas descartáveis” é um crime contra a cultura nordestina!!

Na qualidade de festa mais representativa do Nordeste brasileiro, sem pedir licença a quem quer que seja, podemos “bater no peito” para dizer que os festejos juninos é “coisa nossa!!”  Valendo salientar: não no conceito, mas na forma de celebrar.

As comemorações de fé tem origem na Igreja Católica Apostólica Romana. Isto é: na Europa. Aliás, não podemos negar que formos colonizados por eles, afinal somos um “produto” em carne e osso, de cuja mistura somos conhecedores: do nativo americano, do branco europeu e do negro africano, regidos culturalmente pela impiedosa locomotiva do capitalismo, que impõe  o “novo” e o “moderno”, a tudo e a todos.

Não obstante o “São João” ser comemorado em todo território nacional é na Região Nordeste que a festa ganha contornos de visibilidade. Contam os livros que pelo fato da nossa região, historicamente, ser castigada pela seca e no mês de junho “ser agraciada” pelas chuvas, nossa gente, sofrida e de boa fé, atribuía à bondade aos referidos santos (Antônio, João e Pedro) e danavam-se a comemorar. Eis aí, portanto, uma das linhas de raciocínio para sermos os verdadeiros “donos dos festejos juninos nordestinos”.

Muito bem, toda essa minha ladainha é para desabafar e hipotecar solidariedade aos artistas da nossa região que empinam, durante o ano inteiro, o ritmo local (forró) como expressão genuína de uma gente que lutou e avançou, num País marcado por desigualdades de toda ordem. É de bom alvitre dizer que a expressão “forró” vem da palavra “forrobodó”, que teve origem no bantu – tronco linguístico africano – que significa arrasta pé, farra e etc.

Inicialmente gostaria de dizer que não sou nenhum tolo para achar as duplas sertanejas não devam fazer sucesso e buscar seus respectivos lugares ao sol. Muito menos tapar os olhos e os ouvidos à estrondosa aceitação do “Safadão”, sobretudo no extrato social mais jovem, tão pouco à “chorominguela” musical, hoje, na ponta da língua dos casais vítimas do “pega-pega”, composta e interpretada pela atualizada Marília Mendonça. Não, não sou tolo. Esse pessoal além de talento tem também – principalmente – uma megaestrutura midiática e financista que os tornam celebridades pontuais. Esse filme não é inédito!

Pois bem, na qualidade de nordestino identificado com a nossa cultura e forrozeiro sou totalmente contra abrir espaço para esses “forasteiros” e “alienígenas” nos palcos da nossa região, em plena FESTA JUNINA.  Os motivos são vários:

Na hora que encurtamos visibilidade aos artistas da terra, no maior evento da nossa região, em detrimento à música “comercial e volátil”, estamos perdendo nas duas pontas. Primeiro: desidratando o que é nosso! Mutilando nossa  história de continuidade regional e inviabilizando o surgimento de novos artistas para levar adiante, a médio e longo prazo, esse patrimônio imaterial coletivo do povo nordestino.

Segundo: estamos invertendo a lógica macroeconômica, na chamada transferência de renda! Ou seja: nós, que somos os mais pobres, estamos transferindo riquezas para os mais ricos, além, claro, de quebrarmos a cadeia econômica musical tradicional da nossa região. Faço apenas uma pergunta: Quantas vezes o Alcimar Monteiro já se apresentou no Rodeio de Barretos? Será que o Cantador Santana já subiu em algum palco da festa da Uva, que ocorre no Rio Grande Sul?

Precisamos criar mecanismos legais e institucionais para nos defendermos dessa ação predatória que joga contra os interesses do povo nordestino, sobretudo enfraquecendo nossa classe artística e consequentemente nossas tradições.

Não podemos, nós nordestinos, sob qualquer ponto de vista, usarmos dinheiro público – da Região de Luis Gonzaga –  para enriquecer ainda mais os já ricos empresários da “musica descartável”, que estão usando nosso mais tradicional festejo e espaço de divulgação para engordar seus caixas, tomando os lugares dos nossos artistas.

Contudo, sugiro que os políticos da nossa região – deputados federal, estadual e até vereador, nas suas respectivas cidades – proponham, nas suas trincheiras,  que  o dinheiro público – dos estados e prefeituras do Nordeste – não possam ser usados para pagar, nas festividades juninas, atrações musicas que não sejam dos estados da nossa região, essa seria, no meu modesto entendimento, uma das mais importantes medidas para começarmos preservar o nosso protagonismo  nas festas juninas.

Se não abrirmos os olhos rápidos, em pouco tempo,  perderemos nosso maior patrimônio, deixaremos de ser os principais atores no palco da nossa maior festa. Encerro esse desabafo em forma de alerta lembrando a música composta pelo vitoriense Aldeniso Tavares que diz: “o Nordeste mudou”, somos fortes e temos cultura própria, mas sua preservação é uma tarefa sem fim!!!

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