Na noite de ontem (09), mais uma vez, ao contemplar uma trinca de pássaros pernoitando no pé de caju da minha residência, lembrei-me do meu manso pássaro, que o chamava de “caboclinho”. Essa curiosa história foi fruto de um dos meus artigos, aqui postado, há mais de cinco anos (abril de 2012).
Pois bem, segue, abaixo, a reprodução do mesmo para que os internautas entendam melhor a história e o motivo do novo registro. Aliás, vale salientar: continuo criando pássaros, sem gaiola ou viveiros. Certamente a trinca de passarinhos, no registro fotográfico de ontem já devem ser descendentes dos que foram protagonistas da história de cinco anos atrás. Vale a pena ler:
Meu manso caboclinho
Ainda permanecem nas pastas da minha memória um triste episodio, envolvendo um dos meus passarinhos, um caboclinho muito manso que comprei na Feira de Pássaros, quando ainda acontecia na Praça da Restauração..
Quando criança, gostava de criar pássaros. Já houve época de possuir uma dezena. Mas, definitivamente, o que marcou a minha mente foi o manso caboclinho. Se não bastasse sua “cantoria”, gabava-me na frente dos colegas e dos adultos, pelo fato de deixar a porta da gaiola aberta e ele não querer sair e, quando resolvia deixar a gaiola, não ia para longe, retornando logo em seguida para sua “casa”, que a encontrava de portas abertas.
As minha gaiolas ficavam penduras no terraço do primeiro andar da casa de papai, na Avenida Silva Jardim. No local circulava poucas pessoas. Certa vez fui passar um final de semana na praia e, por motivos que nem me lembro, demorei mais do estava programado. Nesta ocasião, vale salientar, estava apenas criando o referido caboclinho.
Ao partir deixei tudo pronto: comida esborrando no coxo, água derramando na tigela de barro – para mantê-la sempre fria – e, como sempre, a porta da gaiola aberta.
Confesso que, na qualidade de criança e na folia da praia, na hora de resolver permanecer por lá, mais do que deveria, não lembrei-se do meu passarinho, o que não aconteceu com o passar dos dias. No entanto, ficava tranquilo porque havia deixado a porta aberta.
Ao regressar para Vitória e, chegando em casa, fui direto no terraço do primeiro andar para ver meu caboclinho. Para minha tristeza, encontrei o “bichinho” morto, dentro da Gaiola com a porta aberta, do jeito que havia deixado. A comida ainda existia, mas a tigela de barro estava seca e, seguramente, ele morreu de sede.
Naquele momento senti tanta culpa e remoço que resolvi não contar à ninguém. No outro dia, caladinho, enterrei-o próximo ao pé de carambola, no quintal da nossa casa. Com os olhos marejados, com as maiores das dores provocada pelo remorso e com a inquestionável sinceridade das crianças, naquele momento, resolvia “dá fim” as gaiolas e não mais criar pássaros.
O tempo passou – e bote tempo nisso – e nunca havia revelado, antes, essa história para ninguém, ou seja: passei muito tempo pensando nisso com muita seriedade. Eis que uns 30 anos depois, por capricho do destino, no pé de caju da minha casa, sem gaiola ou viveiro, uma trinca de pássaros resolveram, sem querer nada em troca, fazer morada.
Sem nenhum aviso prévio, logo cedo, eles partem não sei para onde. Com uma precisão incrível, retornam ao cair da tarde para pernoitarem, sob os galhos do meu pé de caju, há pelo menos uns três meses. Sendo assim, confesso, quebrei minha promessa. Mas devo revelar, também, que toda vez que os vejo lembro do pequeno pássaro que morreu sedento, ou seja: lembro do meu manso caboclinho.