#regulabusão

Semana passada a estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco, Camila Mirele, sofreu um infeliz acidente na ufpe. Ela estava no ônibus da linha Barro-Macaxeira, quando a porta abriu e ela caiu. A universidade se solidarizou e todos lamentamos essa tragédia com a estudante.

Essa lamentável notícia parece uma realidade muito distante da nossa.Mas na verdade queríamos dizer aqui que os estudantes passam diariamente por situações de insegurança.

Só nesse mês passado, o ônibus que eu utilizava, quebrou na estrada duas vezes, próximo ao Shopping e depois na altura do João Murilo, e a gente teve que procurar um transporte alternativo. Também houve uma ocasião em que um dos motoristas pareceu ter cochilado na pista. Para os estudantes aqui não é grande novidade isso, porque há histórico de motoristas em que os estudantes precisaram ficar do lado dele para ele não dormir durante a viagem.

André e a diretoria de transporte não toma providências?

Quero adiantar antes de tudo que não queremos demonizar ou depositar toda a culpa na diretoria de transporte. Temos consciência de que a diretoria de transporte fica entre a cruz e a espada, pois ela tem que gerir o ônibus dos estudantes com um orçamento reduzido para a manutenção de uma frota que viaja cerca de 35 vezes por dia.Então quero deixar bem claro que estamos tratando aqui de um problema muito mais amplo e que envolve o transporte dos estudantes desde que ele foi implementado em Vitória de Santo Antão e que envolve particularmente nossos representantes.

André porque vocês não tomam providências, porque vocês não reclamam, não gritam, não batem panela na porta da prefeitura para melhorar essa situação?

Acredito que essa é a principal discussão dos estudantes aqui hoje: capacidade de reclamação, de reivindicar melhorias. Porque o que ocorre há cerca de 10 anos, que é o tempo de existência desses ônibus, é que os estudantes têm sido pressionados a permanecerem mudos, seja qual for a situação que a gente passe. E de que forma isso acontece?

Este serviço começou no primeiro mandato do ex-prefeito José Aglailson, e na época foi um serviço de grande valor, tanto que influenciou várias cidades na região a adotarem o transporte universitário. E já naquela época era exigido ao estudante, contra a lei, uma doação de bolsas de leite em pó. Evidentemente, ninguém podia reclamar, porque tinham medo de perder a vaga no ônibus. A exigência das bolsas de leite era tão irregular, que posteriormente foi retirada.

Depois disso, todo mundo vai lembrar, que o atual prefeito da cidade venceu o seu terceiro mandato incluindo na plataforma de campanha um ônibus de primeiro andar.Havia uma discussão eleitoral na cidade de que Elias Lira tiraria o ônibus de primeiro andar, e a partir disso o grupo passou a circular um ônibus luxuoso prometendo não só manter o transporte como fornecer esse ônibus luxuoso. O prefeito venceu as eleições, cumpriu a promessa, mas quando foi reeleito neste quarto mandato agora, tirou o ônibus de primeiro andar de circulação, alegando que era uma promessa de campanha do mandato anterior. Os estudantes, novamente, silenciaram, afinal, a gente não queria sair reclamando disso e perder o direito de usar o ônibus.

Agora, no começo desse ano, o prefeito criou uma novidade, que na verdade é uma estratégia política, que é a redução do contingente de alunos via decreto. Ou seja, em janeiro desse ano o prefeito emitiu um decreto retirando o direito de alunos do ensino médio e outros estudantes (como os estudantes do CAV), a terem acesso ao transporte. Novamente, os outros estudantes não quiseram reclamar, pois em tempos de demissão de funcionários e de redução do número de carteirinhas, ninguém queria arriscar perder a carteirinha ou o transporte.

Sendo assim, nesses 10 anos de transporte Universitário, o emudecimento dos estudantes foi sempre a moeda da prefeitura. E os nossos governantes conseguiram sempre nos silenciar, conseguiram sempre tirar nossa capacidade de reclamar melhorias, a partir de uma estratégia muito simples: a não regulamentação do ônibus universitário.

Acontece que todas as vezes que nós, estudantes universitários, quisemos reclamar a ampliação do orçamento destinado à manutenção do transporte, ou reclamar melhores condições de segurança no trânsito, o Poder público sempre fez questão de nos lembrar que o este serviço não era nada mais do que um favor. Uma generosidade do prefeito.

E nossas reclamações não são de agora, é importante destacar isso. Vocês vão lembrar que em junho de 2013 houve protestos em todo o Brasil e a juventude tomou as ruas para reclamar melhorias. Não foi diferente aqui em Vitória, quando 500 estudantes se dirigiram ao prédio da prefeitura reclamando uma pauta muito específica.Entre as nossas reivindicações, estava essa regulamentação do ônibus dos estudantes. E foi o nosso, quem sabe, futuro prefeito Ozias Valentim, que nos deu uma ideia muito interessante: fazer com que a arrecadação da Zona Azul e das multas de trânsito fossem destinadas à criação de um fundo específico que servisse à manutenção do ônibus universitário. A partir desse fundo seria possível criar uma regulamentação do transporte. Mas aí a prefeitura disse que não poderia viabilizar nenhuma das nossas pautas e aí as ruas esvaziaram e ficou tudo por isso mesmo.

Os vereadores Edvaldo Bione e Antônio Gabriel conversaram com a gente em outras oportunidades a respeito dessa possibilidade de transferir a arrecadação das multas e da zona azul para o transporte, e acharam uma ideia muito interessante. Agora, isso parece praticamente inviável hoje, porque como é que um contrato que prevê91,5% da arrecadaçãopública para uma empresa privada, pode destinar recursos ao ônibus dos estudantes?A municipalização do trânsito, portanto, gera uma fonte de recursos que poderia ser destinada a criação desse fundo.

Enfim, nossa reclamação não é de agora, e já apelamos para o prefeito, para todos os seus secretários em 2013, já afalamos a respeito com os vereadores Edvaldo Bione, Antônio Gabriel, Geraldo Filho, também já falamos brevemente com o professor Edmo Neves.

Nossa leitura disso tudo, é que não interessa para o poder executivo, nem o atual e nem o anterior, regulamentar esse transporte universitário. E não interessa porque mantendo o ônibus irregular, eles conseguem manter o estudante no cabresto, sempre temendo perde-lo a cada novo prefeito eleito nessa prefeitura.

E embora a gente entenda a razão por trás disso tudo, não conseguimos ainda compreender é a justificativa da prefeitura para não tornar este transporte um direito dos estudantes, tendo em vista que ele existe há mais de 10 anos no município. Não conseguimos entender é a justificativa da prefeitura para não tornar um direito, um transporte que já realiza cerca de 35 viagens diárias trafegando uma média de 2000 estudantes. Não conseguimos entender é a justificativa da prefeitura para não tornar um direito, um ônibus que segundo o Plano Plurianual 2015-1017 prevê uma despesa de 843.150 reais.Não conseguimos entender é a justificativa da prefeitura para não tornar um direito este transporte que já é regulado administrativamente via decreto. Ou seja:

  1. O serviço já é oferecido disponível há uma década
  2. Ele impacta diretamente cerca de 2000 estudantes e suas famílias.
  3. Até o final do governo ele já está previsto em orçamento
  4. Já existe um decreto regulando administrativamente ao acesso

E tendo em vista todos esses fatores,a prefeitura não manifesta o menor interesse tornar este ônibus um direito.

Quero lembrar a todos que este transporte não possui apenas valor eleitoral e ele não impacta somenteesses dois mil estudantes que o utilizam. Na verdade ele exerce impacto na cidade toda na medida em que impede que gerações de estudantes migrem logo cedo para a capital. Ou seja, se não tivéssemos este serviço no município, estaríamos perdendo para Recife e para outras cidades da região metropolitana, cidadãos qualificados que poderiam estar produzindo, consumindo e vivendo na nossa cidade.Pois sem o transporte universitário, é praticamente inviável morar em Vitória e depender do monopólio da Borborema para ir à Recife (que, diga-se de passagem, aumentou o valor da passagem de 7,50 para o preço cômodo de 10 reais, só nesse mês).

Não queremos perder o transporte universitário, pois o que mais precisamos para estudar é tempo. Perdemos diariamente entre 2 e 4 horas trafegando de Vitória pra Recife, e caso não tenhamos este ônibus dos estudantes, teríamos que pegar mais de uma condução para nos deslocar pra lá, além das despesas exorbitantes com transporte (só o transporte da Borborema, acarretaria um gasto diário de 20 reais, ou 400 reais no mês).

Então nossa principal queixa e sugestão de solução, é a regulamentação do transporte. É tentar fazer dele um direito dos estudantes.É tentar fazer com que nós, estudantes, recuperemos a capacidade de reclamar melhorias, sem termos medo de perder o nosso acesso ao transporte. É tentar recuperar nossa voz e poder reclamar toda vez que subirmos num ônibus superlotado ou inseguro.

Porque o nosso silêncio de medo, pode ser um dia um silêncio de tristeza, como essa da lamentável morte da Universidade Federal de Pernambuco, que trafegava num ônibus inseguro. Pois essa realidade da estudante não é tão distante da nossa realidade diária.

Sem tornar o ônibus um direito do estudante,a prefeitura deixa nossos olhosabertos para vermos os descasos a que estamos sujeitos, mas nossa boca amordaçada para não podermos reclamar.

aposente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *