A Pessoa Idosa – por Valdenice José Raimundo

maos idosas
Caro/a leitor/a, há duas semanas que não escrevo para o blog, mas acompanhei todas as considerações que foram realizadas na minha última postagem que discutia a redução da maioridade penal. Hoje quero pensar sobre o tema: a pessoa idosa. Recentemente participei na Universidade Católica de Pernambuco, na condição de palestrante, do Fórum da Pessoa Idosa, atividade que ocorre todos os meses.

A temática abordada no evento foi Protagonismo Social da Pessoa Idosa. Desde então, tenho sido provocada a pensar sobre isto. A questão ficou ainda mais saliente quando me deparei com duas situações. Na primeira, vi um motorista não parar quando uma idosa solicitou parada. Dentre as coisas que ela falou a que mais chamou a minha atenção foi quando disse, em um tom que mesclava tristeza e chateação: Ele parece que não vai envelhecer. A segunda ocorreu dias depois. Passaram por mim três jovens e uma dizia em um tom forte, encorpado: “os idosos como qualquer outro cidadão merecem respeito”. A temática parecia me perseguir.

Então, comecei a me inquietar. Inquietação que conduz a busca para compreender a questão em foco. É tão óbvio, todos vamos envelhecer. A cada dia envelhecemos um pouco. Então, por que é tão difícil para muitas pessoas entender isto como um processo natural? Como síntese do vivido? A pessoa que discrimina o idoso um dia envelhecerá. Logo, os idosos deveriam ser respeitados, honrados. Mas ao contrário, têm que cotidianamente afirmar seu lugar, enquanto pessoa humana, por ver seus direitos violados, desrespeitados devido as marcas ofertadas pelo tempo, marcas que dizem das suas lutas, sonhos, frustações, conquistas…

Entendo que muitos fatores têm contribuído para essa negação do ser idoso pela sociedade. Destaca-se a questão cultural, que historicamente tem relegado a pessoa idosa a uma condição de “inutilidade”. Essa ideia precisa ser enfrentada e superada. A negação tem um tom perverso, pois contribui para que muitos não desejem envelhecer, submetendo-se a diversas técnicas de rejuvenescimento.

Vivemos numa sociedade cheia de contradições! Para alguns estudiosos existe uma verdadeira ditadura da beleza e nessa concepção de “beleza” não caberiam as rugas, os cabelos brancos. É uma sociedade pensada para os jovens. Então, manter-se jovem é a meta de muitos. Contraditório? Sim! Pois orientados por essa lógica não são levados em conta os anos de experiência, a maturidade adquirida nos anos de existência.

Esses pontos pincelados resultam de conversas com diferentes idosos. Gosto de estar com eles. É bom lembrar que os idosos são diversos, não é uma categoria social homogênea. Eles são brancos, negros, pobres, ricos, heteros, de orientação homoafetiva, namoram, trabalham, sobrevivem dos programas sociais, etc. O que nos leva a evidenciar que dentro dessa discussão muitas outras variáveis poderiam ser abordadas.

Diante de tudo isto, afirmo: gosto de envelhecer; respeito os que já viveram mais do que eu, pois sou de um tempo em que pedíamos a benção aos mais velhos. Parávamos para escutar suas histórias. Entendo que “envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo” (Charles Saint-Beuve). Se for possível eu quero viver muito.

Até a próxima.

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Valdenice José Raimundo
Doutora em Serviço Social
Docente na Universidade Católica de Pernambuco
Líder do Grupo de Estudos  em Raça, Gênero e Políticas Públicas – UNICAP
Coordenadora do Projeto Vidas Inteligentes sem Drogas e Álcool – VIDA.
Endereço para acessar este CV:

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