Bete Mendes – por @historia_em_retalhos.

17 de agosto de 1985.

Eleita deputada federal pela segunda vez, a atriz @betemendes2010 foi convidada para integrar a comitiva do presidente José Sarney em visita oficial ao Uruguai.

Era a primeira viagem de Sarney ao exterior e o país começava a respirar os seus primeiros ares de liberdade, após 21 anos de autoritarismo.

Tudo parecia ir bem, até um encontro infame mudar os rumos daquela excursão.

Inesperadamente, Bete deparou-se com a face do horror em um dos compromissos oficiais: o coronel Brilhante Ustra, que a torturara nos porões do Doi-Codi e era adido militar na embaixada brasileira em Montevidéu.

Ustra também reconhecera a antiga vítima e, pasmem, junto com a sua esposa, tentou aproximar-se da deputada, procurando demonstrar cordialidade e “justificar” o passado.

Tão logo retornou ao Brasil, Bete escreveu uma carta ao presidente denunciando o ex-torturador:

“Não posso calar-me ante a constatação de uma realidade que reabriu em mim profunda e dolorosa ferida… Digo-o, presidente, com conhecimento de causa: fui torturada por ele. (…) A Nova República, sonho de ontem, é a realidade palpável de hoje. Mas ela não se consolidará se no atual governo, aqui ou alhures, elementos como o coronel Brilhante Ustra estiverem infiltrados em quaisquer cargos ou funções. (…) Por isso, denuncio-o aqui. E peço, como vítima, como cidadã e como deputada federal, providências imediatas que culminem com o afastamento desse militar das funções que desempenha no vizinho país. (…).”

Em resposta, Sarney anunciou o afastamento do militar da função, não sem antes enfrentar forte resistência do Exército.

Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais terríveis torturadores da história deste país, morreu em 2015.

Um ano antes de sua morte, o STJ confirmou uma decisão que reconhecera Ustra como torturador, o único da lista de 377 torturadores a receber uma decisão judicial nesse sentido.

Em 2021, o coronel teve a pensão de suas filhas equiparada à de um marechal, patente que no Brasil só é dada a heróis de guerra, mesmo sem jamais ter participado de qualquer combate.

Sob o seu comando, o terror da tortura não poupou nem as crianças.

Um último comentário:
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Bete Mendes sofre, até hoje, de problemas na audição, decorrência das sessões de tortura a que fora submetida.
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