Vamos voltar a 1999 – por @historia_em_retalhos.

O Recife era governado por Roberto Magalhães, político tradicional, ex-governador de PE (1983/1986), que chegara ao Palácio do Capibaribe com o apoio decisivo de Jarbas Vasconcelos, sob as bênçãos da coalizão política que ficara conhecida como “União por Pernambuco”.

Roberto caminhava para uma reeleição tranquila.

Tinha uma gestão bem avaliada, Jarbas havia derrotado Arraes e FHC havia sido reeleito presidente da República.

A União por Pernambuco, naquelas circunstâncias, era quase imbatível.

Um fato, porém, mudou os rumos daquele pleito, tornando-o histórico, por levar, pela primeira vez, a disputa na capital pernambucana ao segundo turno.

No dia 9 de agosto, o prefeito era um dos convidados para um almoço que Jarbas oferecera ao então presidente do BNDES, Andréa Calabbi.

Assim que o almoço terminou, retirou-se, seguindo para a sede do Jornal do Commercio, na Rua do Imperador.

Dispensou a segurança e, sozinho, com uma arma na cintura, adentrou à redação do JC.

O alvo era o colunista Orismar Rodrigues, que, segundo o prefeito, o teria desonrado ao publicar uma nota sobre o veto ao projeto da Torre de Cristal, de Francisco Brennand, que teria uma suposta natureza fálica ou erótica.

Ao chegar, Magalhães pediu para falar com o editor-chefe, Ivanildo Sampaio, e, em seguida, solicitou a presença do colunista social.

Olhando em direção a Orismar, abriu o paletó, para exibir a arma, e perguntou, em tom ameaçador:

– Quantos anos o senhor tem?

E prosseguiu:

– Quer viver mais 20 anos? Então, pare de fazer ataques à minha família.

30 minutos depois, o assunto já era manchete.

Na semana seguinte, o sindicato dos jornalistas promoveu um ato de repúdio, reunindo mais de 1.500 pessoas.

Como tudo tem um preço, o lamentável ato de violência e autoritarismo custou caro.

A campanha do candidato João Paulo ganhou volume e o postulante do PT conseguiu chegar ao 2.° turno, crescendo mais de 130 mil votos em relação ao 1.° turno.

Ao fim, sagrou-se vencedor daquela eleição histórica, com uma diferença de apenas 5.835 votos.

Para muitos, o episódio da Torre de Cristal foi o detalhe mais decisivo para o desfecho daquele pleito.

Alguns detalhes importantes:
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(a) a nota de Orismar sequer citava o nome do prefeito, tampouco o da sua esposa, Jane Magalhães.
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(b) o assunto teve tanta repercussão que Orismar chegou a dar entrevistas para jornais dos Estados Unidos e da Europa.
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(c) além do episódio da Torre de Cristal, Magalhães envolveu-se em uma outra confusão: durante uma carreata na Av. Boa Viagem, no último domingo que antecedia a eleição do primeiro turno, ao ser provocado por adversários, dirigiu-lhes um gesto de “banana”, fato que foi exaustivamente exposto no guia eleitoral dos seus adversários.
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(d) no segundo turno, João Paulo Lima e Silva contou com o apoio dos demais candidatos derrotados no primeiro turno: Fred Brandt, Pantaleão, Vicente André Gomes e Carlos Wilson.
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