UM HOMEM QUE AMA OS LIVROS – por Lucivânio Jatobá.

Encontrei casualmente na sua microempresa de materiais de construção- ETAPA FINAL – situada na Estrada do Arraial, próxima do número 4.484, em Casa Amarela, um Homem que ama os livros.O nome desse Homem é Sérgio Nascimento, proprietário da empresa referida. Fui ao estabelecimento em busca de uma tomada e fiação elétrica e eis que encontro, logo na entrada , sobre uma mesa, vários livros importantíssimos ( Cisnes Selvagens, O Morro dos Ventos Uivantes, obras de Eça de Queiroz, Oscar Wilde, etc. ) Eram livros que marcaram minha vida de leitor. Aquilo lá chamou-me logo a atenção. Não estava, na verdade, entendendo era nada.
Quem vai a esse tipo de comércio encontra: cimento, areia, tijolos materiais elétricos. portas, torneiras, canos PVC, vasos sanitários… Mas livros?
Perguntei logo quanto eram aqueles livros, quanto custa esse fabuloso Cisnes Selvagens, um libelo contra o horror que foi a Revolução Cultural Chinesa? A resposta me desconsertou ainda mais : Nada! Absolutamente nada” Pode levá-lo! É seu. Como assim????
O Sérgio, muito simpático, risonho e paciente passou-me a explicar o “que era aquilo”. Ouviu-o atentamente. Não poderia ser diferente. “- Isso aqui é um projeto meu. Fui aluno pobre de escolas públicas de Pernambuco e nem sempre pude ter acesso a livros que queria muito ler. Então, há uns anos, resolvi pedir doações de livros para repassar para alunos carentes dessas escolas, mas com o compromisso de após lerem o livro doado, entregarem uma resenha escrita à mão livre ao seu professor de português/Redação. Este se compromete a me entregar, também, essas resenhas. Escolho as duas melhores e dou um presente de 100 reais aos autores, sob a forma de uma Caderneta de Poupança…”
Quem é esse mecenas da cultura suburbana? O que dizer desse de La Mancha de Casa Amarela? Preferi conversar com ele, pois não é a todo o momento que se encontra alguém com tal perfil…. Que aula esse Homem me proporcionou! Fiquei atônito e eufórico.
Pensei que era coisa de minha senilidade, um delírio cultural meu. Difícil acreditar sobretudo porque tentei doar parte dos meus mais de 1000 livros a Bibliotecas Públicas, a Bibliotecas de Universidade Federal, Secretaria de Educação Municipal ,e até pessoas outras e quase sempre recebi rejeição a esse tipo “perigoso” de doação, o Livro. Livro, sei muito bem, é uma arma letal, pois tira indivíduos do mundo das trevas…. Cheguei ultimamente a pensar que não se ama mais o livro quando vejo o ódio com que alguns se referem ao livro como um peso na vida das pessoas, sobretudo das viúvas.
Conversei um bom tempo com esse Homem idealista e cheio de bons propósitos! Um Homem que quer armar os jovens humildes para a guerra contra a ignorância, a estupidez e a alienação. Que propósitos nobres!
Eu que havia perdido a esperança de tudo no país, sobretudo neste ano de 2023, readquiri o ânimo. Há seres humanos do Bem ainda na minha Pátria! Talvez sejam poucos e figuras liliputianas no cenário nacional. Mas que existem, existem…. e são Hercúleas. Salve-os!
Não poderia silenciar diante desse indivíduo que conheci ao acaso. Aqui o meu testemunho e aplauso. Ele deveria estar à frente de alguma Secretaria de Cultura ou de Educação…
Que se multipliquem em progressão geométrica urgentemente esses indivíduos de quem tanto a minha Pátria necessita.. Ainda há saída!
Lucivânio Jatobá – professor. 

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