Lampião e o Promotor – por @historia_em_retalhos.

Durante o ciclo do cangaço, raríssimas eram aquelas pessoas que ousavam escrever qualquer coisa que falasse mal dos cangaceiros.

Pior ainda, se esse cangaceiro fosse Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Vaidoso, ególatra e impiedoso, Lampião não aceitava ser contrariado.

Para quem o fizesse, a resposta seria a morte.

Pois bem.

Em 1934, o promotor de justiça Manuel Cândido (foto) publicou o livro “Fatores do Cangaço”, enquanto atuava na cidade de São José do Egito/PE, desnudando as arbitrariedades praticadas tanto pelos cangaceiros quanto pelas volantes.

Por um acaso do destino, um exemplar da obra caiu nas mãos de Lampião, que não gostou do que leu.

Estava sacramentado: a partir daquele momento, a vida do promotor estava sob risco.

Poucos meses depois, quando seguia para Água Branca/AL, Manuel Cândido deu o enorme azar de estar dentro de um caminhão que foi interceptado por Lampião.

Ao reconhecer o autor da obra, Virgulino determinou que descesse do veículo e o acompanhasse para uma conversa.

– “Doutor, cadê o livro que o senhor escreveu sobre Lampião? Está aí?”, indagou o cangaceiro.

– “Está, capitão!”, respondeu o promotor.

– “Então, doutor, o senhor vai lê-lo agorinha mesmo!”

Inteligente e sabedor da pouca intimidade do cangaceiro com as letras, o promotor adotara a seguinte estratégia: pulara os trechos que criticavam Lampião e caprichava na leitura dos parágrafos que falavam mal das forças volantes.

Ao perceber a artimanha, Lampião ficou furioso e ofereceu ao promotor duas opções: ou comia página por página do livro, ou se deixaria sangrar pela ponta de um punhal.

E agora?

Acreditem: o safo promotor conseguiu escapar.

Anos depois, ele narrara que a única saída que lhe restou foi tentar sensibilizar Maria Bonita, esposa de Lampião.

Para tanto, ele afirmara que o seu pavor não era da morte, mas de deixar a sua filhinha de 6 anos sem ter quem a sustentasse.

– “Lampião, garanta o doutor, pois eu só me lembro de minha filha”, ponderou a Rainha do Cangaço.

O capitão atendeu ao pedido da esposa, mas fez o promotor prometer que, no caso de uma nova edição da obra, corrigiria as passagens “erradas”.
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