Cartões-Postais – por Marcus Prado.


Nas bancas de revistas (que ainda restam) por onde passo, quando me vem a vontade de saber sobre os novos cartões-postais, dizem que deixaram de vender. “Mataram”. Quem os matou? “As câmeras digitais”. Tornou-se um souvenir para os nostálgicos.

Nos correios, antes da era digital, era comum esse estilo generoso e simpático de comunicação, prática usada para celebrar ou compartilhar, entre parentes e amigos, instantes especiais marcados por sentimentos, quando não de pertencimento. Eles chegavam aonde os carteiros não tinham o hábito de chegar, tamanha a sua popularidade. Vale o prazer de conferir as coleções dos nossos antigos cartões-postais guardados no Cehibra/Fundação Joaquim Nabuco/Fundaj, a destacar a Coleção de Augusto Oliveira, a partir de imagens do começo dos séculos XIX e XX, e a de Josebias Bandeira, pernambucano da Vitória de Santo Antão, com mais de 40 anos dedicados a esse gênero de colecionador.

Somados: os cartões-postais do Cehibra, com a coleção particular de Josebias Bandeira, do Arquivo Público de Pernambuco, do Museu Estado de Pernambuco, do Museu da Cidade do Recife, da Fundarpe, do Museu da Imagem e do Som, com a coleção José Luiz Mota Menezes, são mais de 20 mil exemplares. Um precioso tesouro cultural pernambucano, objetos museológicos, arquivísticos e documentais, fonte de inesgotável importância para um capítulo da nossa história social – os valores historicamente atribuídos aos cartões-postais.

Ainda hoje não será difícil encontrar (inesperados) velhos cartões-postais de famílias pernambucanas nos Bouquinistes, à margem do Sena, em Paris. Estive mais de uma vez ali, lembrando-me da importância dada pelo fotógrafo Cartier Bresson ao fenômeno do cartão-postal decorado, “uma forma de integrar o mundo através de poucas palavras e imagens, se tornando um produto com valor de forte apelo sentimental”.

Grandes vultos da pintura e da Fotografia do início do século XX, entre os quais, integrantes do Movimento Dadaísta, no período fértil das imagens, formas e figuras associadas à criação de ideias e expressões estéticas, fizeram uso de cartões-postais, destacadamente, nas suas colagens.

Bilhetes-postais – como eram chamados os cartões-postais no início do século XX, estavam no primeiro olhar dos surrealistas, como Joan Miró, escultor, pintor, gravurista e ceramista espanhol. Tinha uma coleção de mais de 400 peças. Sabe-se que Pablo Picasso, durante muito tempo, manteve um constante diálogo com os cartões-postais. Não só Picasso: Picábia, Max Ernst, Man Ray. Mais detalhes sobre a presença dos cartões-postais nos movimentos de vanguarda europeia nos inícios do século XX serão vistos no livro, que recomendo, “O desafio do olhar”, da brasileira Annatereza Fabris (USP).

Ainda hoje não será difícil encontrar (inesperados) cartões-postais, cheios de surpresas, de famílias pernambucanas nos Bouquinistes. Como foi o caso de Josebias Bandeira (apontado como um dos maiores colecionadores brasileiros de cartões-postais) que teve a sorte de comprar, no tradicional refúgio parisiense de colecionadores, como se estivessem à sua espera, exemplares de cartões-postais centenários de certa família pernambucana, com a marca, imagens do Recife, carimbo e selo dos Correios do Brasil. Outra importante pesquisa, que recomendo, é a de autoria da pernambucana Cibele Barbosa (Fundaj/Cehibra): “De Orientes e Áfricas: visualidades coloniais nas imagens dos cartões-postais da coleção Augusto Oliveira.” Trata de um conjunto de mais de 300 cartões-postais endereçados ao colecionador Augusto Frederico de Oliveira, entre os anos de 1906 a 1908.

Marcus Prado – jornalista. 

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