Era dia de carnaval.
O verso de Paulinho da Viola poderia nos sugerir um enredo com um final feliz, mas não foi o que aconteceu no carnaval do dia 23.02.1974, no Rio de Janeiro.
O jovem acadêmico de Direito Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira partiu do Recife, sua terra natal, para o RJ, e, depois, para SP, quando foi aprovado em um concurso público.
Desde a adolescência, militava contra a ditadura militar brasileira, chegando a participar do grupo Ação Popular (AP).
Nunca houve, todavia, registro de que tenha integrado a luta armada.
Em 1974, aos 26 anos, foi passar o carnaval no Rio de Janeiro.
No dia 23.02, decidiu ir visitar amigos que faziam parte da resistência política, os quais eram obrigados a viver na clandestinidade.
Dentre estes, estava o amigo de infância Eduardo Collier.
Ao sair, Fernando avisara que, se não retornasse, até às 18h, os familiares poderiam suspeitar de sua prisão.
E o pressentimento confirmou-se.
Fernando e Eduardo simplesmente desapareceram e, até hoje, não se sabe ao certo o que aconteceu naquele dia.
Há, pelo menos, duas hipóteses.
A primeira é a de que os dois jovens foram levados para o DOI-Codi, em SP, e, depois de mortos, sepultados como indigentes no Cemitério Dom Bosco, em Perus.
Outra possibilidade é a de que Fernando e Eduardo foram conduzidos para a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), e os seus corpos encaminhados para incineração na Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes/RJ.
Esta última vertente é embasada no depoimento do ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, prestado à Comissão Nacional da Verdade, em 21.01.2013.
A mãe de Fernando, dona Elzita, morreu, aos 105 anos, sempre em busca de notícias do filho, tornando-se um símbolo desta luta.
Costumo dizer que dona Elzita está para o Brasil, assim como as Mães da Praça de Maio estão para a Argentina.
Fernando deixou o seu filho Felipe (foto), ex-presidente da OAB, com menos de dois anos de idade.
O DA de Direito da UNICAP e o Teatro Municipal de Olinda receberam o seu nome.
Ontem, hoje e amanhã, a mais reprovável das violências será sempre aquela praticada pelo próprio Estado.
#ditaduranuncamais
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