Camões e Os Lusíadas, de J. Nabuco: reedição de uma obra esquecida – por Marcus Prado – Jornalista

Creio que seria sugestiva e pertinente uma história, ainda não escrita, da presença de Pernambuco e dos pernambucanos na história da Academia Brasileira de Letras, desde a sua fundação (1897), com Joaquim Nabuco, (o primeiro convidado por Machado de Assis, o Nabuco britânico e contundente nos debates e nas discussões, nas cortes internacionais, na campanha da abolição, na Embaixada em Washington, com seu estilo rebuscado e elegante) até os nossos dias, com José Paulo Cavalcanti Filho, o mais recente dos “imortais” nascidos aqui.

Nesse 30 de novembro, essa história se amplia e enriquece de modo especial com o lançamento, na sede da ABL, no Rio de Janeiro, da obra pouco conhecida, “Camões e Os Lusíadas”, de Joaquim Nabuco, numa iniciativa da Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco/Fundaj. Para se ter uma ideia, a primeira edição, hoje uma raridade, traz a marca dos exatos 150 anos (Thypographia do Imperial Instituto Artístico), exigindo do seu novo editor, o escritor Mário Hélio, o esforço competente de atualização ortográfica, sendo dele, também, além de erudito prefacio, dezenas de notas de rodapé, as “notas do editor”, e do estudo introdutório, de Antônio Campos, presidente da Fundaj. Sem os dois, a presente edição não cumpriria os seus objetivos: Como um jovem de apenas 23 anos foi capaz de construir uma obra com tamanho vigor sobre o poeta máximo do nosso idioma, o grande sistematizador da passagem do Português arcaico para o Português moderno, autor do maior poema épico da língua portuguesa, publicado em 1572.

Todos sabemos dos complexos problemas linguísticos que cercam uma obra como a de Camões, mas Nabuco soube intuir e perceber a essência do Os Lusíadas, no que é manifesto na natureza dessa obra. Seria nessas páginas que afloram, aqui e ali, passagens breves, mas suficientes para nos transmitir um modelo de comportamento, o seu feitio lapidar muito delineado, para a vocação futura do escritor. (Aos 19 anos já se tornaria conhecido com o polêmico panfleto O Povo e o Trono). Não sei que fontes de pesquisas estavam ao dispor de Nabuco para realizar um trabalho que ainda hoje surpreende por suas virtudes de análise crítica, para a época, avançada, e consistência de detalhes de forma límpida e cristalina. Sabe-se apenas que, nos seus 20 anos, era visto como um sagaz leitor na biblioteca do Gabinete Português de Leituras do Rio de Janeiro.

Se este livro não esteve presente na melhor bibliografia do seu tempo brasileiro sobre Os Lusíadas, (sua modernidade atemporal) não por limitações, falta de méritos, maturidade, mas pela sorte, que não teve, dos cuidados editoriais só alcançados depois de 150 anos.

Não duvido que essa nova publicação do livro de Joaquim Nabuco, inteiramente preservada, não deixará de ser, a partir de agora, parte integrante da bibliografia camoniana em nosso País, que teve noutro mestre pernambucano, um dos seus mais celebrados estudiosos, o meu saudoso amigo Leodegário Amarante de Azevedo Filho, ele que foi ensaísta e filólogo, professor titular e emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Não deixará de figurar, a partir dessa edição, da rica camoniana brasileira que conta com nomes como Antônio Houaiss, Antenor Nascentes, Augusto Magne, Celso Cunha, Gladstone Chaves de Mello, Gilberto de Mendonça Teles, Cleonice Berardinelli, Segismundo Spina, Sílvio Elia, Sousa da Silveira.

Por fim, vale ressaltar a paixão camoniana de Joaquim Nabuco quando de sua famosa palestra, no dia 10 de junho de 1880, no Gabinete Português de Leitura, durante o 4º Centenário da morte de Camões, cerimônia que contou com a presença do Imperador D. Pedro II e S.M. a Imperatriz.

Marcus Prado – Jornalista

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