Esse tema sempre me intrigou muito.
Não entendia porque o país vizinho, que também passou pelo flagelo perverso da escravidão, tinha uma população negra tão reduzida.
Só para se ter uma ideia: no século 18, a participação negra chegou a ser de 30% da população argentina.
Hoje, gira em torno de 4 a 6%.
Há razões históricas, que, pelo absurdo, lembram de alguma forma o processo de desaparecimento dos índios nos EUA.
Tudo começou com a abolição da escravidão, em 1853.
Tal qual no Brasil, os negros foram entregues à própria sorte, caindo no esquecimento e abandono.
Morando em guetos, cortiços e favelas, sem higiene, a população negra passou a ser presa fácil das grandes epidemias, como cólera e febre amarela.
Muitos sucumbiram nesse período.
Um outro fator (cruel e covarde) também pesou bastante: a maciça exposição dos negros nas linhas de frente das guerras, como “buchas de canhão”.
Com os grandes embates nas guerras da independência, na Guerra do Paraguai e em outros conflitos, o governo criou diversos batalhões constituídos apenas por afro-argentinos, com promessas de dias melhores, que nunca chegaram.
Esses batalhões não recebiam as mesmas instruções e treinamentos, partiam para o fronte e eram simplesmente dizimados.
Some-se a esse processo de aniquilamento o forte estímulo, a partir de 1850, à imigração da mão de obra branca europeia (principalmente italianos e espanhóis), a qual gozava de prestígio e tinha os seus direitos civis e trabalhistas reconhecidos.
Estigmatizados e sob a vigência de uma clara política de branqueamento, os afro-argentinos foram, aos poucos, desaparecendo.
Uma curiosidade: paradoxalmente, o maior símbolo da cultura argentina, o Tango, tem origem africana.
O ritmo fazia parte das cerimônias escravas conhecidas como “tangós”.
Há o ditado que diz que “os argentinos são italianos que falam espanhol e que pensam que são ingleses”.
De fato, tem o seu fundo de verdade.
Este retalho está longe de exaurir o tema, mas explica, em certa medida, porque a Argentina ainda é um país reconhecidamente racista.
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