A Casa mais olindense de Olinda – por Marcus Prado.

Já imaginou conhecer cada cantinho (e sua fascinante história) de uma das Casas mais olindenses e ilustres de Olinda, senão de Pernambuco, a Casa da Rua de São Bento, que pertenceu ao herói da Restauração Pernambucana, João Fernandes Vieira? Um dos sobrados mais antigos e preservados da cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, hoje de propriedade do escritor, ficcionista, biógrafo, acadêmico da APL, Cláudio Aguiar, e que teve como seu antigo dono e morador o escritor e acadêmico da ABL, Joaquim de Arruda Falcão. O sobrado foi tombado em nível federal pelo IPHAN como Patrimônio Histórico e Artístico de rigorosa preservação. Não conheço em Olinda outro imóvel com tamanho esforço de preservação.

Quem sobe a colina de acesso ao Mosteiro de São Bento, vindo do Palácio dos Governadores, o olhar atento para o último sobrado do lado direito dessa Rua, terá o mesmo gosto experimentado pelo monarca Dom Pedro II quando esteve com a sua comitiva em visita à Marinho dos Caetés, em 1859. A mesma Rua que foi de Edson Nery da Fonseca, Gilvan Samico, Ormindo Pires Filho e de tantos religiosos educadores beneditinos que ficaram na história. A rua mais visitada por milhares de turistas que passam por Olinda todo ano, onde se ouve o mais belo tocar de sinos do sítio histórico. Não tem erro: na parte cimeira do sobrado há uma placa histórica informando que João Fernandes Vieira habitou e faleceu naquele imóvel. A placa foi fixada pela primeira vez, em 1865, pelo Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), responsável pela luxuosa edição do livro. Placa inspirada num pedido de Dom Pedro.

Não foi por acaso que a visita imperial privilegiava no seu roteiro pernambucano os lugares emblemáticos da nossa história. Em Olinda a sua escolha foi para o Mosteiro de São Bento e a Casa do Mestre de Campo e herói João Fernandes Vieira, ele que ficou conhecido como um dos mentores da Insurreição Pernambucana (1645-1654), que culminou com a expulsão dos holandeses das nossas terras depois das batalhas do Monte dos Guararapes. Sem esquecer a do Monte das Tabocas, em Vitória de Santo Antão, desafiadora e heroica, que teve como seu historiador o saudoso mestre José Aragão.

Conhecedor da história de Pernambuco como raros do seu tempo e dos feitos heroicos do morador dessa Casa, o monarca que amava fotografar, fez questão de ali se demorar na calçada cujos tijolos e pedras ainda são do seu tempo, as chamadas “Pedras do Reino”. Ainda hoje, diz o autor, “podem ser vistas dezenas de “Pedras do Reino” colocadas em toda a extensão lateral da calçada (…)”

Tudo isso e mais ainda é narrado com detalhes minuciosos numa bem conduzida escrita e pesquisa histórica, que acaba de sair do prelo, numa edição de luxo, capa dura, bilíngue: A Casa de João Fernandes Vieira, o Restaurador de Pernambuco, de Cláudio Aguiar, conhecido por sua vasta obra literária e prêmios como o Jabuti, pela dedicação ao patrimônio histórico de Pernambuco, assim como pela sua elogiada atuação durante vários anos à frente do PEN CLUBE do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. No elogioso prefácio de Arno Wehling, da ABL e confrade de Claudio Aguiar no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RJ), foi dito que “o autor bem atendeu aos requisitos ditados por Gilberto Freyre: a obra é biografia e sociologia, além de ser, igualmente, um belo exercício de história cultural, associando memória social e cultural”. De sua parte, mestre Reinaldo Carneiro Leão, Secretário Perpétuo do Instituto Arqueológico e Histórico Pernambucano, num dos seus melhores textos como historiador, nos diz, no Prefácio, que o livro de Cláudio Aguiar muito provavelmente surge para a melhor compreensão do herói da Restauração Pernambucana”. O autor por certo já conta com esse livro para as bases de sustentação da futura Casa olindense de muitos saberes culturais que pretende criar, tendo como sede a Casa de Vieira e como moldura, além das particularidades das suas dependências, feitas para durar séculos, o espaço público do entorno do sobrado. Um entorno preservado, que cumpre as leis internacionais de Tombamento histórico. Um lugar de se poder desfrutar do mais belo amanhecer da cidade. É um livro de notável e perceptível importância na melhor historiografia brasileira do nosso tempo. Ostenta um polo de enorme atração como leitura cristalizada no domínio da arte de escrever e pesquisa. O livro, dedicado a Célia, mulher do autor, reúne fotos temáticas de minha autoria, de J. Francisco e Ítalo Didot. A versão em inglês é de Tereza Christina Rocque da Motta.

Marcus Prado – jornalista. 

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