OS SONS PARA SEREM OUVIDOS e ENTOADOS – por Marcus Prado.

OS SONS PARA SEREM OUVIDOS e ENTOADOS
O espaço sonoro, no intervalo em linha reta, entre o Preto e o Branco, não audível por ouvidos humanos, com suas placas de sinalização e divisórias;
O tocar dos sinos das velhas igrejas;
O som das matracas quebrando o silêncio das madrugadas, nas antigas procissões;
O hino da Pitombeira e dos velhos maracatus;
As rabecas quando tocadas na sua casa olindense;
Os violeiros e repentistas nas feiras do Interior;
O tambor nos rituais da umbanda e candomblé;
O toque das cornetas em som de alvorada dos navios ancorados;
O som das andorinhas em redemoinho;
O ranger das dobradiças de velhas portas, quando bate no espelho;
O som da bengala de castão de ouro de Francisco Brennand sobre as peças, para teste de qualidade, nas esculturas saídas do forno;
O som do graveto seco em fogo aceso, no fogão rústico de uma só boca, de cozinha suburbana;
O som da prensa manual da casa de farinha na sua primeira farinhada;
Os instrumentos de percussão usados pelos Caboclinhos enquanto fazem passos de coreografia, conjunto de arco e flecha, denominado preaca, em que a flecha, ao ser acionada, se choca com a face interna do arco e produz ritmos musicais;
(O estouro que ouvi parecia um ovo sendo quebrado, o som de uma melancia sendo esmagada).
Sem esquecer o som da oficina do carpinteiro ajustando os raios da roda ao redor do eixo,
O som do vento batendo nos castiçais e que pela casa toda se espalha;
No inicio, meio e fim da alquimia do êxtase
O triste bater de asas do pássaro cativo, desde nascido, numa gaiola perto da mata, numa manhã ensolarada.
Em alguns casos, uma imagem vale mais que mil palavras, um som vale
mais que mil imagens e um aroma vale mais do que mil sons.
Eu diria
O MAIS TRISTE DOS SONS: quando o cão se perde do seu dono caçador, e no meio das suas aflições, enlouquece.

Marcus Prado – jornalista. 

 

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