Vitória, cidade industrial? – por Pedro Cavalcanti.

Não foi só uma vez que me deparei com a frase “as indústrias estão chegando em Vitória, mas só contratam peões, os maiores salários ficam com as pessoas que vem de fora”. Poderia ser uma contradição capitalista, o “peão” é sempre descartado, mas também é uma mostra de nossa realidade. Nossa população é pouco instruída. Todavia, mesmo assim, industrializamos.

Como toda a organização econômica, a industrialização do nosso município começou engatinhando. Em seus primórdios contava com a sempre saudosa Pitú, A Companhia Industrial de Vidros (CIV) e algumas outras que vocês podem consultar facilmente com nosso amigo Pilako. Esse processo começa a parar de engatinhar quando há a primeira grande mudança estrutural, a duplicação da BR-232, que começou no ano 2000 e finalizou em 2007. Dessa forma Vitória ganhava um acesso mais rápido à capital pernambucana e sua região metropolitana.

Outra obra estrutural que passa quase despercebida é o gasoduto que corta nossa cidade e segue até Caruaru. Foi inaugurado em 2009 junto com a indústria que mudaria o patamar de nossa cidade, a SADIA. Esses três movimentos podem parecer dispersos, porém, a duplicação da 232, o gasoduto e a SADIA fazem parte do mesmo processo. Com políticas de incentivos fiscais, terras e mão-de-obra barata, a estrutura era o único entrave que afastava as indústrias da nossa cidade. Valendo-se de um acentuado processo de desindustrialização do SUDESTE, e com excelentes benefícios regionais, o Nordeste teve um incremento industrial em contraponto ao resto do país.

As indústrias começaram a se instalar, de uma forma que parece alheia a nossa cidade. Estavam em grande parte “do outro lado da pista”. Querem nosso incentivo fiscal, nossa terra e nossa mão-de-obra barata, mas não vão se afastar do gás e da rodovia. Nosso distrito industrial nasceu oferecendo algo que o Vitoriense sequer sonhava, trabalho “fichado”. Parece um exagero, mas os cargos de baixo salário que as indústrias ofereceram são um manjar numa cidade travada e com mais da metade da população vivendo com uma renda média de metade de um salário.

Nossa cidade sem infraestrutura urbana e sem planejamento agora é pujante de fábricas. Nossa população continua despreparada e o preço da terra disparou. Não é de se estranhar o “boom” imobiliário que veio com as indústrias. A cidade cresceu em tempo recorde, trabalhadores de cidades vizinhas, e até de outras regiões precisavam de moradias. Foi a “farra dos novos condomínios e loteamentos”. O preço dos aluguéis gentrificou alguns bairros (tirou o peão de lá), a classe média cresceu através do comércio e dos serviços. A cidade começou a sentir até as moléstias da capital com seu trânsito desorganizado.

O que podemos esperar do futuro? O processo de industrialização tende ao crescimento, e nossos gestores? Saberão lidar com isso?

Pedro Cavalcanti é Doutorando em Geografia pela UFPE e Pós-graduando em Administração Pública e Direito Legislativo pela UPE.

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