A CASA DE MINHA AVÓ – por Sosígenes Bittencourt.

Quando os estrangeiros foram morar
na casa de minha avó
roubaram-lhe os ares de eternidade.

E a casa de minha avó ficou sendo
uma casa comum no quarteirão.

Os estrangeiros nem sabiam pisar
no chão que minha avó
a vida inteira lustrou de pinho.

Os estrangeiros falavam alto
entre as paredes
que minha avó bafejou de calma.

Hoje, a casa de minha avó
é apenas um biscuit na memória.

Sosígenes Bittencourt

Vovó Celina residiu à Rua Melo Verçosa, nº 314, apelidada de Rua do Colégio das Freiras, em Vitória de Santo Antão. Minha avó era de uma singeleza singular, tomava banho, penteava os cabelos, borrifava perfume, entonada em vestido bom, para ouvir o jogo do Sport Club do Recife pelo Rádio. Foi em sua casa que inalei o cheiro das árvores do atual Colégio das Damas no tempo do lago dos cisnes. Daqui para além da morte, não sei se será permitido conduzir esta lembrança.

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