Câmara da Vitória: muito consenso e pouca transparência…..

Nosso lugar tem história. Já ostentamos as seguintes categorias: povoado, freguesia, vila até chegarmos à cidade, a partir de 1843. Mas podemos dizer – indubitavelmente – que a maior transformação, sob todos os pontos de vista, se deu justamente quando fomos elevados à categoria de “vila” – Vila de Santo Antão, a partir de 1812. Nesse contexto histórico, por assim dizer, ascendemos a “lugar autônomo”. Como símbolo maior dessa autônima materializou-se a figura da nossa Câmara de Vereadores.

Ainda no  Brasil Colônia ( até 1822), as  Câmaras faziam de “um tudo” – legislava, administrava, executava e julgava. Com a primeira Constituição Brasileira (1824), já no “Brasil Império”, os mandatos de vereadores foram fixados em 4 anos e o mais votado assumia a presidência, já que não existia a figura do “prefeito”. Em 1905, já no Brasil República,  criou-se a figura da “Intendência”. O tempo passou e com a feição de hoje, as Câmaras Municipais – ou Casas Legislativas – ressurgem depois de 1945. Apesar de todas as atribuições que lhe foram tiradas, o “Poder Legislativo” ainda é o mais poderoso da República Federativa do Brasil.

Pois bem, recentemente – dia 1º de janeiro – tivemos eleição para a  mesa diretora da nossa Câmara de Vereadores – Casa Diogo de Braga. Assumiu para o biênio 2021/22, o vereador André Saulo, também conhecido por André de Bau. Do conjunto dessa legislatura ele se configura num dos mais preparados – advogado, professor e político  com certa quilometragem.

Em particular, a  atividade política brasileira passa por um desgaste visível e até crescente. Para ficar só no campo do legislativo, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras de Vereadores, convenhamos, com raríssimas exceções,  não vem produzindo bons fatos para reverter esse  quadro.  Nesses espaços,  é público e notório, há muito corporativismo, regalias, “arrumadinho” e porque não dizer corrupção.  Todo os dias divulga-se um escândalo novo.

Sendo as câmaras de vereadores a legitima e verdadeira “Casa do Povo”,  palco natural do livre exercício do contraditório e também  “DNA” do  regime  democrático de direito, com todo respeito aos nobres e amigos vereadores da Vitória de Santo Antão, na qualidade de população, não podemos ver com bons olhos os últimos processos internos, no sentido da escolha dos seus dirigentes. 

Não tem muita lógica, filosoficamente falando, não haver disputas pelo poder da casa. Na eleição imediatamente anterior a mais recente, todos votaram no vereador Romero Querálvares. Algo que foge um pouco a compreensão do processo eleitoral pelo qual os vereadores foram eleitos. Não podemos imaginar consenso sempre, sobretudo  num espaço que tem na sua gênesis  o confronto,  as divergências ideológicas,  o debate do contraditório e do livre pensar, até porque, a mesma (câmara) é  a “caixa de ressonância” oficial de todas as classe sociais, no pleno exercício da  sua eterna dialética, aliás, dialética é palavra que nos faz lembrar o sempre atual filósofo Karl Marx.

Para concluir essas despretensiosas linhas,  espero que os nobres vereadores antonenses estejam atentos às mensagens emitidas pelas urnas no último pleito (2020), em que  praticamente todos os vereadores que foram à reeleição tiveram seus votos reduzidos. Aos  novos que acabaram de entrar, fica o alerta:  a cobrança será ainda maior, isso porque, nas suas respectivas campanhas recentes, vocês produziram mensagens no sentido da mudança do comportamento arcaico e carcomido.

O eleitorado da Vitória amadureceu e com isso o acompanhamento  deverá  acontecer com mais ênfase. Não esqueçamos: estamos em processo de metamorfose, principalmente no contexto da chamada política representativa. Doravante, quem não estiver conseguindo enxergar isso, possivelmente terá vida curta nessa fascinante  e secular atividade.

Viva o Poder Legislativo da Vila de Santo Antão – o nosso primeiro poder…..

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