Um amigo para a vida toda……….

Semana passada, em um blog, li um artigo que me fez refletir bastante. Falava de uma realidade comum (morte), mas com um requinte de ineditismo, pelo menos pra mim e para nossa cultura. Aliás, dizem alguns entendidos  que em função do avanço da ciência, nos últimos dois séculos, cada dia que passa estamos “desnaturalizando” a morte.

O artigo tratava de um telefonema sui generis entre dois homens maduros que se conheciam desde os bancos escolares. Separados pelas questões naturais da vida adulta, até a última sexta (02) em definitivo, os dois se falaram pela última vez alguns dias antes de um deles comunicar  sua morte programada, lá dou outro lado do mundo (Holanda). O papo foi  exatamente assim:

– “Como vai?, Zé Paulo”.
– “Tudo bem, rapaz, o que há de novo?”.
– “Estou ligando para me despedir.
– “Como???”
– “É que vou fazer eutanásia na próxima sexta” (hoje, dia de finados).

Após o primeiro impacto da noticia, como se fosse um murro na barriga, narrou o Zé Paulo, o Agnaldo narrou os motivos pelos quais havia tomado a aludida  decisão. Entre outras coisas, em função de um câncer, estava apenas com 51kg e a cada cinco dias perdia mais um.

Quando questionado sobre a legalidade do ato, o Agnaldo disse que na Holanda era permitido e que já havia tomado todas providencias legais. Aliás até descreveu como seria:

“Até quarta, iria se despedir de amigos e parentes. Quinta, mulher e filhos. Sexta de manhã, só a mulher. No começo da tarde, chegariam juiz, tabelião, o médico da família, enfermeiro. E às 16 horas, em sua cama, tomaria uma injeção. Não sentiria dor, assim lhe prometeram”.

Em função da diferença de horário –Brasil/Holanda – sua viagem sem volta ocorreria exatamente às 12h da sexta (02). Confesso que antes de ler o aludido  artigo nunca havia falado no senhor Agnaldo, no entanto, de certa forma, fiquei sensibilizado com o seu calvário e com a sua leveza na decisão, até porque ele também pediu ao Zé Paulo para  que fosse transmitido aos amigos em comum o seu falecimento programado – dia de finados.

Desde a leitura do artigo, aqui e acolá, fiquei a lembrar do senhor Agnaldo (sem nunca haver antes tomado ciência da sua existência). Na sexta (02), já por volta das 11h – lá na Holanda 15h – já tava ligado em pensamento (eita…… falta um hora para Agnaldo morrer). Às 12h em ponto,  fiquei totalmente ligado. Parecia que estava lá……..

Bom! O senhor Agnaldo nem foi o primeiro nem será o último sujeito a programar sua morte,  mas, desde a leitura do artigo realçado, passei a admirar esse camarada,  que ligou para o amigo para pedir-lhe que avisasse a outros amigos que ele iriam morrer……….Esse sim! Foi um amigo para toda vida e para a vida toda…….Feliz quem gozou da sua amizade!!!

 

 

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