Tragédia ou massacre? – por Wedson Garcia

Gueto nazista? Não. A imagem acima é de um campo de refugiados na Europa, em 2016. Embora as condições sejam péssimas, esses espaços são a única alternativa para milhares de migrantes e refugiados que tentam chegar ao velho continente, para escapar da miséria, violência e perseguição. Porém, quando eles conseguem atingir as fronteiras da União Europeia (UE), da pior forma possível, também descobrem que a segurança permanece fora do próprio alcance, fato que explica os rostos cansados e angustiados da grande maioria, que se vê perdida em um novo território, onde verdadeiras fortalezas de arame farpado os mantém isolados da vida cotidiana que tanto almejaram e que forçam medidas desesperadas frente aos sistemas sofisticados de vigilância e equipes de guardas de fronteira.

A situação é drástica! Mas os maltratados e expulsos ilegalmente, sem acesso aos procedimentos de asilo, sob ameaça de detenção e condições que os colocam em grave risco, ainda preservam e existência e, em consequência, a esperança, diante da lembrança das incontáveis pessoas que, desde 2000, já morreram, tentando fazer a mesma jornada.

Se não bastasse, de forma contraditória, até o século 20, o acolhimento de refugiados tinha respaldo popular. Mas hoje, devido aos atentados terroristas, aqueles que chegam à Europa, causam aumento de brutalidade, intolerância e até Repugnância, devido à insatisfação das sociedades locais que, embora aleguem não compactuar com ações extremas, as colocam em prática com seus semelhantes, esquecendo-se que o Velho Continente também foi responsável pelo Imperialismo, colonialismo e ditatorialismo que, por anos, desestabilizaram tanto o Oriente Médio quanto a África.

Tragédia ou massacre?

Quando nos referimos ao êxodo de refugiados que ocorre principalmente na Europa, por meio do Mar Mediterrâneo, nos deparamos com um dilema mórbido: “tão próximo, porém tão distante”. Isso porque embora esteja ali, a apenas algumas horas de barco, a união Europeia não está disposta a ser um destino para essas pessoas.

As manchetes se sucedem, trazendo mais e mais números de mortos, e todos sabem que os constantes desastres e afogamentos têm um carrasco: a Política – a mesma que motiva os desajustes sociais e causa as fugas em massa. Tudo isso seria evitável, porém a política europeia está determinada a tornar a viagem para aquele continente o mais difícil possível para quem muito necessita de asilo.

O artigo 4º da convenção europeia dos Direitos Humanos diz, inquestionavelmente: “É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros. ” Ele não qualifica e nem abre margem, é intenso por princípio, mas marcado por sequelas: a primeira linha de um recente acordo entre a UE (união europeia) e a Turquia, por sua vez, afirma que: “Todos os novos migrantes irregulares que cruzam da Turquia para as ilhas gregas a partir de 20 de março de 2016 serão devolvidos para a Turquia. ” Apenas por deslize de interpretação linguística não se pode entender isso como uma “expulsão coletiva”. O conselho Europeu de Refugiados e Exilados sempre foi uma parte da estratégia de contenção do assédio de imigrantes ilegais. Mas agora, diante dessa catástrofe humana, tornou-se a plataforma alinhada e explícita da política antirrefugiados da UE.

Milhares não conseguem passar para a Europa e os locais reservados para acomodar quem consegue superar as desventuras da travessia oferece, segundo a Anistia Internacional, “condições desumanas”. Seja em Lampedusa, na Itália, onde o prefeito da ilha comparou o acampamento a um campo de concentração nazista; ou na Bulgária, onde os migrantes vivem aterrorizados com a constante ameaça de agressão racista; ou em Caldas, no norte da França, onde autoridades resolveram demolir as casas improvisadas em que os refugiados eram forçados a viver – mesmo sem terem algum outro lugar para ir.

Os governos alegam ter muita dificuldade em lidar com o número alarmante de imigrantes, e existe o pânico pela segurança provocado pela ameaça do Estado Islâmico. Por fim, a UE está obcecada em controlar a imigração ilegal, então, os números não são o problema, a vontade política, sim. Mais de 22 mil pessoas morreram tentando chegar à Europa desde 2000. Eles queriam atravessar a fronteira para salvar suas vidas, mas em vez disso, a fronteira os matou… e nada mudou, ainda.

Wedson Garcia é ator e diretor de teatro com bacharel em Administração pela Faculdade Metropolitana do Recife. Estudante do curso de licenciatura plena em história da Universidade Estácio.  Contribui para o desenvolvimento teatral da cidade de Vitória de Santo Antão, estando a frente do Núcleo de Pesquisa Cênica de Pernambuco. Contato:wedsongarcia@hotmail.com

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