Mataram Pernambuco?

Perdoem-me a dúvida, mas é que estamos ainda sentindo o calor das fogueiras juninas, e pouco estamos vendo da alma pernambucana.

Explico: desde criança, aprendemos a admirar o nosso estado, Pernambuco, pela sua história, suas tradições e seus ritmos; ouvimos cantar Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marines, Dominguinhos, Assizão e tanta gente boa que tomou em seus ombros a responsabilidade de perpetuar o nosso estado por meio do que nos diferencia e nos torna uma “nação” dentro de outra nação: nossa cultura!

Pude como milhares de crianças, adolescentes e adultos, dançar quadrilha, mas quadrilha mesmo (sem esses invenções de hoje que mais “caricaturizam” do que preservam), dentro de uma cadência “equilibrada”; pude ver casas decoradas, famílias inteiras se remexendo ao som de verdadeiros ritmos juninos, inclusive, e fundamentalmente, decentes. Creditava-se e vivia-se o melhor! Vivia-se a alma pernambucana!
Então, de olhos no passado, ainda recente, por que a minha dúvida? Pelo que se ouve e se vê atualmente; hoje, o São João tornou-se um produto de mídia: temos músicas que, de juninas, não têm mais nada, mas, o que as rádios e emissoras de televisão colocam para à sociedade é como se o fossem. A Pornofonia, a má qualidade. o barulho idiota das baterias, tomou o lugar da beleza, do singelo, da tranqüilidade!

O que sempre foi uma festa familiar, com fortes elementos religiosos, até porque se comemora um grande santo: São João Batista aquele que batizou Jesus Cristo, agora é quase pornofônica, diria até com fortes elementos de pornográfica, é só ouvir algumas músicas, é só ver o que fizeram das danças, etc.

Fizeram da nossa mais querida festa nordestina um imbróglio, isto é, uma mistura sem brilho, criminosamente descaracterizaram um símbolo pernambucano. E, como corolário desse assassinato cultural trazem atrações alienígenas para os ditos focos juninos. Criaram até a tradição do ridículo: todos os anos levam à querida Gravatá atrações como Asa de Águia, O Rappa e Jorge e Mateus, e outras porcarias alienígenas…

Caruaru, a “Capital do Forró,” (quem dera que ainda fosse) providenciou em jogar uma colher de cal na tradição promovendo aberrações “marcianas” tipo: Luan Santana, etc.

Qual o brilho cultural que há nisto: um grande público? Ora, se esta for a desculpa, “tragam” Pink Floyd, ressuscitem Michael Jackson, Madonna e, com certeza, teremos mais de um milhão de iludidos nas ruas.

Será que já não basta descaracterizar o nosso Carnaval, querem também o São João.

E o pior, toda essa engenharia feita para descaracterizar o nosso São João, é azeitada com dinheiro público. Isto mesmo, com dinheiro público. O Governo do Estado de Pernambuco e esses governos municipais medíocres estão usando dinheiro que poderia ser posto para fomentar cultura genuinamente nossa, usam para promover a inculturação de nossa gente.

O que se vê em Gravatá e em Caruaru, Campina Grande é o festival do ridículo, do desamor pelas coisas nordestinas.

Pernambuco, em talentos, possui valores superiores àqueles alienígenas, postos à apreciação de uma multidão cada vez “menos” pernambucana.

Ser pernambucano é ter alma, é falar, é pensar, é ouvir os sons ancestrais que sempre fizeram de nosso estado uma nação dentro desta nação chamada Brasil. É duro ter que dizer a nossos filhos, ou a quem quer que seja, que aquilo que se viu e se vê em Gravatá e em Caruaru, etc (em geral em todo o estado) é, inferior aos nossos ícones culturais; já que a mídia, o governo estadual, e alguns outros descompromissados com o espírito de pernambucanidade, de forma às vezes subliminar, às vezes agressiva e mentirosa, dizem o contrário.

Vivemos uma guerra de idéias, de valores, de alma diria, e sendo assim o que esperar de multidões influenciadas pela alienação cultural? Pela pornofonia?

O Fundador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de janeiro, o Padre Leonel Franca já nos alertava sobre à má idéia, sobre a divulgação do que não presta:

“Grande é a responsabilidade de quem escreve. Agitar ideias é mais grave do que mobilizar exércitos. O soldado poderá semear os horrores da força bruta desencadeada e infrene; mas enfim o braço cansa e a espada torna à cinta ou a enferruja e consome o tempo. A idéia uma vez desembainhada é arma sempre ativa, que já não volta ao estojo nem se embota com os anos”. (…)

Basta! Somos pernambucanos!


Por Manoel Carlos.

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