A zona azul como mudança no território e manutenção do espaço vitoriense.

Muito tenho ouvido falar sobre as discussões à respeito da chamada “zona azul”, resolvi tentar entender um pouco esse processo. O crescimento econômico do município (lembrem-se! Crescimento é diferente de desenvolvimento) vem acontecendo de forma não linear, ou seja, é um crescimento controlado pelo incentivo fiscal numa espécie de batalha de “favores econômicos”. Vitória está bem posicionada geograficamente e sua posição e função urbana facilita o comércio. A pouca distância do centro consumidor, a região metropolitana do Recife, como também do centro distribuidor, o porto de Suape,  além da boa condição de infraestrutura e de abastecimento de água, gás e a mão de obra abundante  torna o município extremamente competitivo. Vitória hoje representa uma centralidade econômica na mata centro-sul e um ponto de convergência educacional e de serviços. O crescimento proporcionou a segurança financeira, e a segurança financeira facilitou o crédito, com a facilitação do crédito crescem o número de veículos na cidade. A grande questão é que a estrutura urbana da cidade nunca foi alterada para esse crescimento. O transporte público na cidade sempre foi defasado não sendo suficientemente confortável ou sequer útil pela demora entre as saídas. Apenas as populações de áreas rurais utilizam o precário transporte de forma contínua. O transporte por moto taxistas entrou para suprir essa carência de mobilidade, e há vários anos representa uma forma forte na paisagem da nossa cidade. O aumento desenfreado no número de carros, com o fraco desenvolvimento do espaço urbano tornou o transito difícil, e estacionar se tornou um desafio para uma população cada vez mais dependente do transporte individual. A zona azul veio como estratégia de mudança e de melhora para esse problema gerado. Talvez uma estratégia de “pelo menos”, uma estratégia para cobrir o sol com a peneira como diz o ditado. É fácil observar o quanto diminuiu a quantidade de carros estacionada entre as ruas do centro comercial, mas também é fácil ver que os problemas de infraestrutura ainda continuam. Trazer uma empresa de fora para organizar e cobrar pelo serviço tornou o preço do serviço caro pelo custo benefício que essa empresa teria e a zona azul além de ser uma estratégia política de cobrir um problema passa a não oferecer sequer renda para um melhoramento da malha urbana ou do transporte. Muda-se toda uma dinâmica e as territorialidades que antes exerciam uma disputa por espaço no centro perdem força. Pontos de moto taxistas foram movidos, taxistas foram movidos. Pergunto-me se há uma melhora no ambiente e respondo que sim. Pergunto-me se há uma melhora na cidade e respondo que não. Uma melhora passa por uma mudança de mentalidade e uma mudança estrutural. Uma zona azul, branca, verde ou amarela não corrigirá o histórico de má gestão a que passamos. A cidade ainda clama por uma mudança de padrão! não se pode pensar em crescimento, ou até desenvolvimento, com uma estrutura de cidade do século XIX.

Por Felipe Cavalcanti
Fonte: Vitoria360graus

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