D. Pedro II: Um Cientista da Realeza em Vitória

Sabe-se que o segundo imperador do Brasil D. Pedro II esteve em visita a nossa cidade pelos idos de 1859. Visita que ficou marcada como um dos maiores acontecimentos na história de Vitória, que à época não passava de um município com uma estrutura urbana ainda muito frágil. Naquela ocasião o imperador visitou o Monte das Tabocas com o intuito de conhecer a produção de cana-de-açúcar da região e a partir dessas inspeções liberarem recursos para o desenvolvimento da cidade. Problemas esses que até hoje perduram na nossa cidade.

O Imperador chegou a vislumbrar sozinho o papel de instituições como CAPS e CNPQ destinados a bolsas de estudos no exterior ou a projetos culturais e científicos. O monarca mais republicano da história tinha ideias avançadas para sua época, talvez pela influência da educação europeia, principalmente a francesa. Vítimas de comentários elogiosos e discriminatórios tinha que conviver com as duas formas de interpretação do seu comportamento, como já disse o historiador  Joaquim Murtinho que expressava em 1883: sua majestade sofre do que se pode chamar mania científica…(…) sua majestade em todos seus atos pode assim dizer a ciência sou Eu.

Entre políticos brasileiros na época (e quem sabe até hoje) pouco davam importância a assuntos científicos, isso era a norma.. Dentre as contribuições que o imperador trouxe para o Brasil está os modelos de varetas e bolas para montagem de moléculas da química orgânica (e inorgânica), hoje muito popular nas universidades do mundo inteiro. Onde as bolas de cores diferentes representam os átomos e as varetas as ligações químicas entre eles,muito útil para o entendimento espacial das conformações das estruturas moleculares, parte da química hoje conhecida como estereoquímica. Este episódio  mostra a preocupação quanto ao aspecto didático do imperador com a divulgação da ciência.

Por um longo tempo o que se passava no Brasil em termos de pesquisa científica era pouco ou quase nada. Na época apenas três instituições eram reconhecidas pelos méritos de estruturas modelo de pesquisa científica: o Museu Nacional e o Observatório, no Rio de janeiro e a Escola de Minas em Ouro Preto (criada logo após sua viagem a Europa), todos intimamente associadas ao imperador. A ciência e em particular a Química desenvolveu-se no século XIX nas universidades. Sendo sido criado por Liebig em Giessen, o método de ensino e pesquisa em química. No Brasil o  processo de criação de universidades sofreu várias críticas de setores positivistas que associavam a um atrofiamento de nosso desenvolvimento científico. O positivismo brasileiro abraçou assim um equivoco iconoclasta medieval. Também é certo que grande parte do desenvolvimento científico dos séculos XVI e XVII se deu fora das universidades.Descartes, Kepler e Pascal não eram professores universitários e muito do que Galileu e Newton fez foi em oposição à universidades.

Por tudo isso é notável que numa sociedade escravista que detestava sujar as mãos se encontrasse um monarca fazendo observações astronômicas ou experiências em seu laboratório. Dos tutores escolhidos para acompanhar D. Pedro II, pelo seu pai (Pedro I) havia sido o cientista e estadista José Bonifácio de Andrada e Silva em primeiro lugar até 1833, depois o Marquês de Itanhaém que escolheu como professor de química o português Alexandre Vandelli que tinha sido assistente de Jose Bonifácio em Lisboa. D Pedro II conhecia bem a química dessa época e teria lido as obras de Dalton , Gay-lussac, Berzelius e Berthelot. Na Inglaterra foi visitar Darwin, que estava fora do país. O Naturalista chegou a escrever:  o imperador fez tanto pela ciência que todo sábio lhe deve o maior respeito… Na Escócia visitou sir, Willian Thompson, convidou Lorde Kelvin a visitar o Brasil como consultor do cabo telegráfico submarino. Visita que se deu três anos mais tarde. Mas foi Pasteur o cientista que mais impressionou o imperador. Em 1876 foi convidado pelo presidente dos Estados Unidos para uma exposição comemorativa dos 100 anos da independência e foi dos primeiros a ver o invento de seu amigo Graham Bell, exibido pela primeira vez naquela exposição.

Desse modo, tivemos em nosso município a visita do ilustre apreciador das ciências Físicas, Químicas e de tantas outras áreas, que tanto nos honra de termos na nossa História uma personagem tão voltada para com esses interesses.

Está faltando um pouco de ciência para estudar o Rio Itapacurá, mas isso já é outra história.

fralkin

 

 

Franklin Ferreira
Professor de Química

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