Fim de Semana Cultural:
Conto sem título – Por Rildo de Deus

Era fim de tarde e não importa que horas os relógios mostrassem. Pessoas caminhavam pela Rua de Dona Nina. Por baixo do arco chamado Sinal de Trânsito com a luz vermelha acesa um grande ônibus-sanfona obedecia ao sinal. Tudo tranquilo até que em meio ao mormaço da várzea e das buzinas dos carros, vem pela contramão uma carroça carregada de capim e dois rapazes negros com os cabelos amarelos (era época de carnaval). A mula vinha na frente. Charmosa e desajeitada (faltava-lhe sangue-azul). Galopava ao ritmo peculiar das mulas quando a ferradura lhe escapa da pata. Rola, pula pelo asfalto e soltando faísca faz um barulho parecido com uma das saudações a São Jorge “Ògún ieé!” Havia um rapaz participando dessa cena quando ela era viva. E não sei por qual motivo ele resolveu fazer o que fez. Esperou uma boa oportunidade, foi para o meio da estrada e pegou a ferradura. Jogou-a para cima estava morna recém-tirada do asfalto quente. Uma voz feminina perguntou: – Tu vai fazer o que com isso menino? – Por no meu pé. Respondeu o rapaz. – Você é delicadozinho né? Macumbeiro!

Continua…

Já era noite e havia um adolescente sujo, fedendo a grude sentando na calçada de um prédio enorme, batia com um martelo numa bigorna fazendo o clássico som de um ferreiro. Alguém o chama atenção: – Tenho um presente para você! – ¿Un regalo para mí? – Sim, é uma ferradura. – ¿Qué es una “Ferradura”? O rapaz abriu a mochila, tirou uma ferradura arranhada e brilhando como faca. O estrangeiro sorriu e pareceu muito contente por ter recebido um “regalo” como aquele. Tão inesperado e meio clichê. Recebeu grato e educadamente disse: – Lo haré con el arte.

Despediram-se e o ferreiro voltou a trabalhar.

Houve um sonho. Painel sonhou com um Orixá: Ogum! Pedindo que limpassem todas as ferramentas da casa. Pois iria a parecer em breve. O Pai de Santo falou com os Filhos da Casa mais presentes no outro dia logo cedo para que adiantassem tudo. Colherem pimenta, limparem os portões colocando óleo… Enfim, tudo foi feito e no meio de uma noite de sábado quando a Lua estava o mais próximo da terra que chegou nus últimos anos choveram Ferraduras iluminadas de prata e chocolate branco onde houvessem pessoas vendo a lua cheia.

Rildo de Deus é Escritor e Estudante de Filosofia da UFPE

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