O Reino Fungi – parte 02

"Coronelzinho se coroa rei de Seráfia à força." - Foto: divulgação - Rede Globo

Recomendamos a leitura da primeira parte deste artigo, para que haja compreensão. Clique aqui.

Escrevia, terça-feira (26), sobre minha viagem ao Reino Fungi. Relembro que nele penetrei através de um exemplar do jornal Gazeta de Victória. Volto, hoje, bem municiado contra os fungos.

Abri o arquivo do nosso Instituto e retirei um exemplar da Gazeta, o número 2, ano 1921.  Deparei-me na primeira página com uma rinha entre esta e a Voz Parochial, o órgão de comunicação e divulgação da matriz de Santo Antão.

Quando do lançamento da Gazeta, seus responsáveis afirmaram, ser o hebdomadário um órgão independente e “livre de opinião”. E foi justamente esse “livre de opinião”, que gerou uma celeuma na época, 1921, seguida de uma troca de correspondências cheias de farpas.

O senhor Tirelle Junior, redator da “Voz Parochial”,  não se agradou da proposta da Gazeta e partiu de encontro  a tal “livre opinião”:

“Um jornal de livre opinião, meu filho, não se concebe porque nós católicos devemos ter medo de taes folhas que são de caráter neutro. Accende uma vela a Deus e outra ao Diabo. Sou católico e como tal devo pautar a vida e as minas acções, do contrário passarei por um embusteiro”.

O senhor Tirelli não perdoava a postura da Gazeta e conclamava os católicos a não lançarem os olhos sobre suas páginas. Apelava o missivista para o “bom senso” dos católicos, (fanáticos tem bom senso?) , que  deveriam se cautelar contra tais folhas.  A confreira, a Voz Parochial, continuava:

“um órgão feito para as dissoluções de costumes, um órgão de rebeldias (por ser independente) e mais ainda: sem moralidade e compustura e assim por isso mesmo, ao injusto pensar dos bons confrades, um órgão incapaz de ter ingresso no seio da grande família vitoriense”.

O Index Librorvm Prohibithorvm estava em pleno vigor. O Índice, em bom português, era uma lista dos livros proibidos aos católicos, criada pela igreja para proteger e prevenir seus fieis das ideias renovadoras e da corrupção. Já pensaram: o vigário era quem determinava o que o cidadão podia ou não podia ler. Se pelo menos fosse sugestivo e o verbo empregado fosse devia, seria menos autoritário.  Devia seria menos proibitivo. Esse ranço, contra novas ideias e ou ideias contrárias, foi sempre uma marca registrada dos fanáticos: comunistas, nazistas, integralistas e outros istas mais.

Observem os caros leitores, que quatrocentos anos depois da instalação da Inquisição, na nossa pequenina Santo Antão, a censura inquisitória ressurgia e tentava sufocar um órgão independente e livre. Hoje, vez ou outra, nossos gestores maiores, ex-presidente Lula,  por exemplo, investem contra a liberdade de imprensa. A imprensa livre os incomoda, tal qual incomodava na década de 20 do século passado ao senhor Terelli. Esse Blog, do qual participo com orgulho, tem como propósito a defesa e a recuperação da nossa cidade e tem como lema “livre opinião”.

Novo ataque dos minúsculos habitantes da Gazeta. Novos espirros e mais uma crise de falta de ar, mas voltarei. Amanhã investirei contra esses nanicos microscópicos e trarei a tiracolo meu amigo,  o professor Ivan Lemosnovitch.

Pedro Ferrer

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