Termópilas e o Monte das Tabocas: a essência do épico – por Marcus Prado.

Um casal de médicos pernambucanos, meus caros amigos, Neyton e Patrícia Santana, em visita à Grécia há poucos dias, ambos interessados na milenar cultura grega, sabendo da minha estima e escritos em que faço analogia de textos clássicos da Grécia Antiga com autores dos nossos dias, trouxeram-me como lembrança uma pequena pedra do sítio sagrado de Termópilas. “O meu desejo, ao visitar a Grécia”, disse-me Patrícia, “foi conhecer menos a Grécia instagramável e mais a Grécia berço cultural ocidental. Mas elegemos como um dos locais a ser visitado Termópilas, pois lá se deu a história de um rei destemido que, ao lado de seus melhores soldados, deu sua vida para refrear um exército inimigo que vinha não para preservar, mas para destruir. Hoje o local é pouco valorizado. A estátua de Leônidas, o herói, que despertou o sentimento de Nação entre os gregos, está em meio a uma auto-estrada. Mas o seu grito corajoso ecoa.”

O ato de Termópilas, embora tenha sido uma derrota tática, foi uma vitória moral. A lição de atualidade que resultou da Batalha de Termópilas, ocorrida em 480 a.C., de que nos fala a médica pernambucana, é de uma grandeza incomensurável, exemplar e de grande atualidade. Reside na disposição de arriscar a vida e a liberdade para confrontar um poder profundamente enraizado, corrupto e brutal. Tornou-se um dos exemplos mais celebrados de heroísmo e sacrifício militar, segundo seus historiadores, a partir do maior de todos: Heródoto. (A sua obra ilumina o que foi essa Guerra que durou apenas três dias). Fez parte das Guerras Greco-Persas e ficou famosa pela atuação de um pequeno contingente de gregos que enfrentou o vasto exército persa. Eram 300 heróis contra mais de 7.000 invasores fortemente armados. A dra. Patrícia fala-me da atualidade simbólica dessa guerra. Termópilas transformou-se no símbolo mítico de resistência desesperada, remete à ideia de uma luta final e incansável contra um poder avassalador.

Na minha casa guardo com carinho uma pequena pedra trazida do Monte das Tabocas (Vitória de Santo Antão), cenário de uma batalha há exatos 380 anos, crucial confronto de 3 de agosto de 1645. Esse evento marcou o início da Insurreição Pernambucana, onde forças luso-brasileiras venceram os holandeses invasores, consolidando a resistência e o sentimento nativista que levaria à expulsão holandesa do Brasil. Abriu caminho para futuras vitórias, como as dos Guararapes, segundo o historiador José Aragão Bezerra Cavalcanti.

As forças luso-brasileiras, lideradas por combatentes como Antônio Dias Cardoso, usaram táticas de guerrilha e o terreno favorável para surpreender os holandeses, que, apesar de estarem mais armados, foram derrotados. Essa ação foi para eles inexplicável, segundo documentos históricos. “A vitória consolidou a resistência e inspirou a luta pela libertação do Brasil.” A bravura e o sacrifício dos “300” de Termópilas e dos heróis de Tabocas tornaram-se um símbolo de determinação em lutar pela liberdade. São epítomes de verdadeiro heroísmo — o sacrifício pessoal máximo pela causa da liberdade: a essência do épico. Os dois combates devem ser vistos no contemporâneo como um símbolo duradouro da coragem, honra e sacrifício inabalável em face de adversidades esmagadoras.

A pedra de Termópilas e a pedra do Monte das Tabocas são iguais, com uma diferença: na batalha do Monte das Tabocas, entre os nossos heróis, não houve traidores.

Marcus Prado – jornalista

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