
“Joaquim do Livramento nasceu numa Sexta-feira Santa, em 22 de março de 1751, escreve o padre Rafael Galanti, na capital da província de Santa Catarina.” Destinava-o, o pai, à vida comercial, e aos 13 anos, mais ou menos, estava Joaquim à frente de um balcão. Não era atento à freguesia. Estava, sempre, de ouvido afiado à voz do sino. Não sabia, esse menino, nascido na terra de Luiz Delfino, de Cruz e Sousa e de Vitor Meireles, arrumar mercadorias nas prateleiras da casa de negócio. Ninguém, porém, o superava, e nem mesmo o igualava, na arte de amar e de enfeitar um altar.
Aos 17 anos, deixou, definitivamente, o comércio, passando a dirigir, no lar paterno, o Oratório de Nossa Senhora do Livramento. Acompanhava o Viático e socorria os pobres e os enfermos. E, um dia, nas ruas da antiga Destêrro, apareceu um homem, muito oço, humilde, de hábito de fazenda grossa, pedindo esmolas, destinadas à fundação de um asilo para os desamparados. Esse jovem, iluminado pela graça de Deus, era o Irmão Joaquim.
Deu, Joaquim, a essa jornada cristã, o rumo do sul e atravessando as fronteiras de sua terra natal, percorreu, de bordão e sacola, a província do Rio Grande, adquirindo donativos. Nessa peregrinação, enfrentou sofrimentos atrozes, e ouviu injúrias. Nada, porém, lhe impediu a marcha penosa, orientada pelo sol e pelas estrelas, e quando regressou ao berço nativo, os pobres tiveram a felicidade de um teto, remédios, alimentação, e a doçura das horas de oração. E para que se mantivesse, esse asilo, através, de todas as necessidades, irmão Joaquim foi Lisboa, e pediu, à rainha, uma pensão.
Um dia, desapareceu, de Santa Catarina, o doce “frei” Joaquim. Levou-o, o destino, à terra baiana de Salvador. Não se foi recolher a um convento. Foi pedir esmolas, nas ruas. E com essas pequenas quantias, fundou o Seminário dos órfãos de São Joaquim. Solicitou, outra vez, em Lisboa, à mãe de D. João VI, dinheiro para os necessitados. E mais tarde, passando, já, dos 50 anos, fundou, ainda perto de Angra dos Reis, o Seminário de Jacuecanga. E nessa missão abençoada de socorrer os aflitos, e os pobrezinhos, foi, em São Paulo, conta um historiador, o companheiro admirável, e abnegado, do padre Campos Lara.
E, pela terceira vez, em 1826, atravessou o Atlântico. Ia pedir, ainda, uma graça, a d. Miguel, de Portugal, para o Seminário de Jacuecanga. A agitação política, naquele país, o levou a Roma. A morte, a esse tempo, começou a marchar ao lado desse “frade” da Ordem de Deus. E regressou à pátria. Não avistou as praias natais. Morreu em Marselha, em 1829, aos 78 anos de idade.
Irmão Joaquim não foi apóstolo, Não foi um missionários. Foi um Santo.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica.
Setembro de 1939 – Célio Meira.
