
Há 44 anos, a ala progressista da Igreja Católica promovia no Pátio do Carmo, no Recife, um pedido de desculpas ao povo preto, na memorável “Missa dos Quilombos”.
Evento de suma importância histórica, mas muito negligenciado, a Missa dos Quilombos lançou uma luz sobre as raízes do racismo e sobre a resistência do povo negro no Brasil.
A celebração foi presidida por um dos poucos bispos negros do Brasil, naquele momento, o mineiro Dom José Maria Pires, arcebispo da Paraíba (“Dom Zumbi”).
Ao seu lado, o anfitrião Dom Helder Camara, arcebispo de Olinda e Recife, que propôs o desafio da realização do ato.
No comando musical, uma das mais elevadas expressões do talento, sensibilidade e criatividade da música brasileira: Milton Nascimento.
Milton estava ao lado de Dom Pedro Casaldáliga e do poeta Pedro Tierra. A escritora Inaldete Pinheiro integrava os grupos de dança de matriz africana.
Em um ambiente ainda opressivo da ditadura militar e pelas mãos de uma instituição ainda muito conservadora (a Igreja Católica), Dom José Maria Pires afirmou com muita coragem que a igreja historicamente “frequentou mais a Casa Grande do que a Senzala”.
“A igreja não estava com os negros e hoje parece que começa a estar. Começa a nos querer bem, a respeitar a nossa cultura e não tratá-la mais como grosseira superstição”, afirmou.
Do Vaticano, porém, viera a odem de interdição ditada pela Congregação da Doutrina da Fé, dirigida pelo cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI), proibindo sumariamente a missa como uma celebração da eucaristia.
No Recife, os jornais estampavam:
“Missa Negra, coisa de satanás, profanação do culto sagrado promovida por Helder Camara, o bispo dos comunistas”.
Mas chegaram tarde.
Cerca de 8 mil pessoas lotaram o Pátio do Carmo.
“Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama”, exaltou o Dom da Paz.
Apesar de desconhecida da maioria, a Missa dos Quilombos contribuiu para consolidar o dia 20 de Novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, instituído pelo Movimento Negro Unificado em 1978.
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