Vida Passada… – Padre Alencar – por Célio Meira.

Quando se proclamou, em 1817, a República de 6 de março, vivia o diácono cearense José Martiniano de Alencar, no Seminário de Olinda. Coube-lhe a honrosa missão de ser , na terra natal, o embaixador das novas ideias políticas, embaixada ele houve, corajosamente, proclamando, a 3 de maio desse ano, conta o barão de Studart, do púlpito da igreja do Crato, a implantação do regime da democracia. Vitoriosa, porém, a contra-revolução, foi perseguido, preso, na companhia de sua mãe, Bárbara de Alencar, e sofreram, e gemeram, os dois, nas masmorras reais de Fortaleza, do Recife e da Baia. Bárbara de Alencar foi uma das figuras de maior relevo, entre as heroínas do Ceará republicano, no começo do século XIX.

Em 1921, conseguiu, padre Alencar, jovem “presbítero do hábito de São Bento”, eleger-se 1º suplente de deputado à Constituinte portuguesa, e , nessa qualidade, substituiu Gomes Parente, formando, em Lisboa, ao lado dos parlamentares que ofereceram resistência ao absolutismo da Casa de Bragança, e que foram, por esse motivo, obrigados a exilar-se na Inglaterra. E regressando ao Brasil, figurou-se entre os deputados à Constituinte de 1824, violentamente dissolvida, a 12 de novembro desse ano pelo jovem D. Pedro I, o herói do Ipiranga, e acorrentado, a esse tempo, aos lindos braços da Marquesa de Santos, a famosa paulista.

Republicano ardoroso, alistou-se imediatamente, em Pernambuco, no mesmo plano de Pais de Andrade, Natividade Saldanha e Frei Caneca, sonhadores da liberdade, que estruturaram, a 2 de julho, a confederação do Equador. Viu, Padre Alencar, aos 36 anos de idade, seu nome vitorioso nas urnas provinciais do Ceará e de Minas Gerais. Deram-lhe, os cearenses e os mineiros, o maldito popular, na Câmara geral. Aceitou a representação do berço nativo. Dois anos decorridos, mereceu, oferecida pelo povo de sua terra, uma das poltronas no Senado do Império. E esse mesmo povo entregou, em 1834, ao revolucionário intimorato de 1837, a cadeira da presidência da província. Foi agitado seu governo. Desenrolou-se, nessa época, a tragédia de Pinto Madeira.

Lutou padre Alencar, por entre aqueles que se abateram pela maioridade de Pedro, o herdeiro de quinze anos da coroa brasileira. E teve  a alegria de ver, em 1840, no trono, o neto de D, João VI. Voltou, nesses anos, a governar o povo do Ceará, contava 46 anos de idade.

E velho, cheio de sofrimentos e de glórias, fechou, a 15 de março de 1860, os olhos para a vida. Foi patriota e amou a liberdade.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *