Mocinho, com os exames de preparatórios, não encaminhou seus passos, o carioca Francisco Moreira de Vasconcelos, na direção de uma escola de ensino superior. Não desejou um título cientifico. Não o deslumbrou o brilho das pedras preciosas, nos anéis simbólicos. Foi bater, alegre, à porta de um teatro. Atraia-o a luz forte, e enganadora, das gambiarras e da ribalta. Ao alvoroço dos estudantes, nos corredores das faculdades, preferiu o cochicho, no pequenino espaço dos bastidores, dos atores e das atrizes. “Matriculou-se”, na Academia do palco. Alcançou o título de “doutor”. E atirou-se ao mundo.
As lições dos mestres o fizeram autor teatral, e a experiência da vida o levou a ser empresário. Fazendo o galã, o centro, o cínico, e por vezes, o cômico, escrevendo dramas, e organizando companhias, começou, Moreira de Vasconcelos, corajosamente, sua peregrinação artística, pelo Brasil, de norte a sul, conquistando aplausos das plateias. Esteve, no Recife, pela primeira vez, escreve Samuel Campelo, em 1885, ao lado de Luiza Leonardo, estreando com o “Tiradentes”, drama histórico, de sua autoria. E, um ano depois, voltou ao Santa Isabel, velho teatro pernambucano, representando “Os Revoltosos”, e encenando, mais tarde, a famosa “Lamarão”, deliciosa revista de costumes recifense.
Quatro anos decorridos, pisou, Moreira de Vasconcelos, pela terceira vez, a terra do Recife. Acolheu-o, o povo, com simpatia, com entusiasmo, e com emoção. “Era, no dizer de um cronista de teatro, escritor de talento, e como empresário, operoso, ativo e inteligente”. Nessa temporada, na companhia, de Luiza e Leonardo, a admirável Leonardo, a “afilhada do Imperador Pedro II”, representava, Moreira de Vasconcelos, no teatro da cidade dos Palmares, quando a morte, em noite de 23 de fevereiro de 1900, malvadamente, o arrebatou. Subia, à cena, “O Calvário”, drama da pena daquela famosa companheira, e em meio à representação, contra-cenando com Luiza Moreira de Vasconcelos cambaleou, levando a mão ao coração.
Era o fim. Era o calvário. “Morreu, no palco. Morreu como um soldado, conta Rêgo Barros, no seu posto de honra”
E assim se extinguiu, dramaticamente, o bom Moreira de Vasconcelos, ator, poeta, e dramaturgo. Quando, no teatro Palmarense, desceu o pano-de-boca, abriram-se mansamente, as cortinas da eternidade. Havia Luz. Era a glória.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.