O Retábulo de Joana Carolina visto por 12 artistas pernambucanos – por Marcus Prado.

Poeta Mauro Mota, juiz de direito José Albino de Aguiar, Osman Lins, Professor Aragão – foto: Raminho Fotógrafo.

“Não é a própria realidade o resultado de uma interpretação?” (Hans-Georg Gadamer/Verdade e Método, volume 2, pág. 391)

O tema que inspirou a exposição “O Retábulo de Lins” (Museu do Estado de Pernambuco – 10 de dezembro de 2024 a 12 de janeiro de 2025), a dimensão estética da sua construção, teve como ponto de partida o conto “Retábulo de Santa Joana Carolina” integrante do livro “Nove, Novena”, de Osman Lins, publicado pela editora Companhia das Letras (1966).

A curadora da exposição, professora Elizabeth Hazin (UnB), mestra em Literatura Comparada, por muitos considerada uma das melhores estudiosas da obra desse autor, diz que a exposição faz conexões entre o texto literário e outras áreas artísticas, “a partir de uma abordagem transdisciplinar”.

Doze artistas plásticos pernambucanos “aliados a possíveis caminhos para as particularidades do texto” carregado de alta densidade poética foram convidados a traduzir em telas os doze “mistérios” que compõem o “retábulo” da personagem Joana Carolina. Os artistas escolhidos: Antônio Henrique Wanderley, Álvaro Caldas, Clerston de Andrade, Fabíola Pimentel, Jessica Martins, Maurício Arraes, Rikia Amaral, Roberto Ploeg, Romero de Andrade Lima, Tereza Perman, Timóteo, Vânia Notaro. Cada obra deveria ser executada em idênticos suportes de tela/painel, nas medidas de 1,20, por 0,80, no sentido vertical, não podendo ser abstrata, sendo obrigatório um conteúdo religioso, “para justificar a união dos doze trabalhos em um único retábulo”.

O primeiro da lista, Antônio Henrique Wanderley, escolheu o sétimo “Mistério”, talvez o mais desafiador do conjunto. “Os meus elementos estavam todos ali: Na parede do fundo, como elemento decorativo, um quadro oval emoldurado com um vidro frontal. A imagem, provavelmente uma estampa religiosa, extraída de algum cartaz da igreja, ou mesmo de uma “folhinha”, como se chamam os calendários pendurados nas paredes como enfeite, apresenta uma comovente cena doméstica de uma Madona sentada junto ao leito da filha, a quem vela e cuida de uma enfermidade, medicando-a com elixires caseiros, xaropes, emplastros e clisteres, preparados com as ervas e plantas do pequeno quintal”. O detalhe da folhinha do segundo plano, citado por Henrique Wanderley, me faz lembrar o quadro do genial pintor flamengo Jan van Eyck, “O Casal Arnolfini”, pintado em 1434: os detalhes de objetos simbólicos na parede de fundo, que se valorizam em amplitude e enigmas. A obra exibe o casamento do então rico comerciante Giovanni Arnolfini com Giovanna Cenami. (Galeria Nacional, Londres).

Do programa da exposição, no dia da abertura, consta uma apresentação da Orquestra de Câmera Criança Cidadã e um desfile de moda de Eliane Mello, estilista de Vitória de Santo Antão, com uma coleção inspirada em Osman Lins.

Marcus Prado – jornalista

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