Um patrimônio histórico e suas capacidades evocativas – por Marcus Prado.

“Cancelar o passado é a única coisa que nem aos deuses havia sido permitido”. (Aristóteles). 

Pernambuco foi um dos estados pioneiros e mais contemplados na esfera Federal, a partir de 1937, com a criação do IPHAN, entidade que tem a finalidade de proteger o conjunto de bens móveis e imóveis históricos existentes no País, de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico e cultural.

Gilberto Freyre teve um papel relevante, raramente lembrado, na implantação desse organismo: tornou-se um dos pioneiros, ao lado de celebridades como Rodrigo Melo Franco de Andrade, Mário de Andrade, Graça Aranha, Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Oscar Niemeyer, Sérgio Buarque de Holanda, Vinícius de Morais, Lúcio Costa. Os pernambucanos: Airton Carvalho, Aníbal Fernandes, Aluísio Magalhães, Antenor Vieira, Leonardo Dantas, Rosa Bonfim muito contribuíram para a preservação dos valores fundamentais do nosso patrimônio cultural. Temos, entre os da nova geração pernambucana: Vera Millet, Amélia Reinaldo, Juliana Barreto, Jorge Tinoco, Marcos Galindo, Natália Vieira Araújo.

Sabe-se do esquecimento destas contribuições. Muitas arestas passam a protagonistas que convivem lado a lado com o olhar indignado da população. As conclusões apontam para um leque alargado de decepções, demoras, desvios de toda ordem, falta de continuidade de excelentes projetos interrompidos, que custaram uma fortuna (dinheiro do contribuinte) quando na mudança de gestões governamentais.
Enche de inquestionável importância para os que acompanham a trajetória do DP, a decisão do governo federal em tombar como Patrimônio Cultural do Brasil as coleções do DIARIO, desde o seu primeiro número, até os dias atuais. Já é um começo dos Anais dos 200 anos do Jornal da Pracinha.

Chegar aos 200 anos em plena atividade, reinventando-se e mantendo a essência e os valores definidos em sua fundação, do compromisso com o leitor à defesa da democracia e da liberdade de expressão, é bastante significativo. Dois séculos de páginas noticiosas, impressas, preservadas, é história que faz história, é testemunho não apenas no sentido vulgar de que o passado é o passado de seu presente. O Tombamento Federal releva a importância que está sendo dada na UFPE, à frente o professor Marcos Galindo, para digitalização das páginas seculares do DP. A ação tem o objetivo de proteção e a acessibilidade à coleção, que foi iniciada no século XIX.
Em tempos desafiadores para a Imprensa, o jornalismo não morreu, seja qual for o seu formato, o seu papel civilizatório será de eterna contemporaneidade.

Marcus Prado – jornalista. 

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