Vitória, cidade que vende livros em farmácias.

farmacia livros

Freud falava nos seus estudos psicanalíticos sobre certo retorno de um reprimido, que consiste na maneira como o ser humano tenta lidar com um evento traumático: ele sofre um trauma, em seguida um recalque, e depois esse trauma reaparece, mas agora como um sintoma. Traduzindo em termos mais simples, aquilo que a gente tenta ocultar, esconder, recalcar, pode retornar como uma patologia psicológica.

Na história acontece algo parecido. O ser humano insiste em esconder e eliminar certas tradições, condutas, práticas culturais, e quando pensa que conseguiu fazer, aquilo retorna como numa explosão de uma panela de pressão. Essa é uma maneira possível de tentar entender, por exemplo, como é possível que em pleno século XXI tenhamos no Brasil o congresso mais conservador desde o período militar. Ou seja, por mais que tentemos um país mais progressista, isso que a história recalca tende a ressurgir das cinzas e com uma força surpreendente.

Na já inaugurada farmácia Big Bem, podemos encontrar um espaço dedicado à venda de livros. E isso me levou a pensar sobre o tipo de sociedade em que vivemos: como Vitória de Santo Antão, com mais de 130 mil habitantes, tem sua principal livraria disputando espaço com medicamentos?

Ao postar esta foto no Facebook, muitos disseram que a imagem simbolizava a remediação da alma. Mas talvez seja possível pensar de uma forma mais psicanalítica. Ora, se os livros surgem em nossa cidade de uma maneira tão sintomática, vendidos junto a remédios, quem sabe tenhamos chegado a um ponto em que a leitura, depois de tanto recalque histórico, surja agora como uma espécie de patologia; e os livros, condenados pela ignorância do nosso Poder Público, estão agora tentando reabitar a nossa cidade de uma maneira perversa.

Não deixa de ser assustadora essa ideia de que os nossos livros ressurjam como remédios, numa cidade com tantos representantes semianalfabetos e aonde a ignorância atingiu patamares de epidemia. Trata-se de um fantasma (quem sabe?) que retorna pra nos assombrar e redimir.

aposente

2 pensou em “Vitória, cidade que vende livros em farmácias.

  1. Nobre pilako é assustador mas verdadeiro, a cultura ainda é o principal “Remédio” de uma sociedade…se não procuramos esse “remédio” em livrarias, quem sabe a ideia não seria mostrar ao público que a falta de leitura, transformou nossa sociedade em uma doença progressiva…forçando a todo custo mostrar que só a leitura liberta almas doentes de sua própria ignorância. Genial ideia da organização da farmácia.

  2. Vocês estão reclamando de que? Ainda bem que agora abriu uma farmácia que vende livros, há um mês atrás não existia, e a culpa é da própria população que não cultiva essa cultura. Vamos parar de reclamar e começar a ver com bons olhos o que nossa cidade recebe! 😉

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