Vitória que o tempo levou…* , Last night**, ou uma pequena homenagem ao Padre Renato

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Lá pela tão distante década de 70 fui testemunha ocular da descoberta de um canhão, que fora utilizado na épica Batalha das Tabocas, canhão desenterrado entre a 1ª Igreja Batista da Vitória e a casa de primo Zé, seria meu primeiro contato com a História (anos mais tarde o destino me cobrou e tive que escrever um livreto sobre as tabocas, um folder…). Estava a bordo de uma Caloi aro 16, guidão duplo, azul, estacionado na calçada do Silogeu, bem em frente a um casarão antigo, de primeiro andar, com o piso de madeira ( local onde funcionou mais tarde o Curso Kennedy de Inglês, do qual fui aluno). Não entendi o falatório do pessoal e a correria.

Depois do ocorrido, retornei a Praça da Matriz, meu reduto, ainda vejo as casas de seu Nabi Koury, de seu Adolfo, de Arlinda Xavier, de Alexandre Holanda, de Pimentel, de Zé da Goiaba, a minha casa (de Genuíno e Lia Ferrer), de Dilson Lira( O Pioneiro, era meu vizinho, cara.), de Dr. Ubirajara, de Dr. Galindo, de Horácio, de seu Hercílio, do Leão, da Igreja do Rosário, da Igreja da Matriz, do Beco do Padre, da Pirâmide, dos Coretos, das Fontes, dos Jardins, das praças em terra, e de tantos outros, um nó seco ecoa em minha garganta, que vontade de estar ali novamente…

Os anos se passaram, e como se passaram, a Praça da Matriz se resumiu a minha casa, a Igreja da Matriz, a Igreja do Rosário, ao Leão, ao Beco do Padre, aos Coretos, as Fontes. Um bocado de gente estranha, de coisas estranhas começaram a habitar aquelas paragens: sorveterias, pizzarias, comidas orientais, clínicas, restaurantes, lojas de roupas, boyzinhos que moram não sei aonde, patricinhas, batatinhas, cachorros quentes, caldinhos… cadê Poça, Matuto, Bila, a Maguary Kibon, Adriana, as meninas de Duarte, os alunos do Paroquial, do Pedro Ribeiro…. Cadê vocês?

De repente tudo começou a acabar: o casarão de Koury (que também foi de Seu Geraldo) foi ao chão, construíram uma casa super moderna no local (do meu amigo Pequeco, na verdade, mais amigo da minha família), derrubaram o coreto (e reconstruíram o coreto), pavimentaram as praças e a tornaram uma, as palmeiras do paroquial foram ao chão, as casas de Dr. Ubirajara, de Zé da Goiaba, de Alexandre Holanda, foram ao chão, tudo foi ao chão. Reerguido, refeito, adaptado por pessoas que nunca viveram no Pátio da Matriz. Mas isto é bom, é a evolução da vida, o crescimento das cidades, estamos em direção ao futuro (mas… olho para trás e não consigo mais enxergar aquele presente tão colorido).

Todavia, eu ainda tinha o Instituto Histórico, e tinha uma retaguarda forte: Melkisedek (fundador da Academia de Letras da Vitória), Minhas tias-avós: Kal, Go, Áurea, Meu tio (Genner), minha tia (Graubem), Minha vó e vô (Lia e Genuíno), dr. Galindo, Arlinda Xavier,  Alexandre Holanda, Meu primo Zé Augusto, meu amigo Genaro, o Eterno Guardião das Tabocas Dr. Evandro Couceiro, Zito Mariano, até mesmo Simião Martiniano (que tantos filmes, ou todos, filmou em Vitória, e hoje ninguém se lembra dele), de Selma do Coco, de Walter de Afogados (procurem saber…).

Mas nem tudo estava acabado, eu ainda tinha como referência o agora presidente do Instituto Histórico (meu primo) Pedro Ferrer, que modernizou o instituto, deu uma nova cara um novo rumo, o Instituto chegou à era do computador. Tinha também a figura mais icônica do Pátio da Matriz: O padre Renato da Cunha. O padre que casou meus pais (Wellington e Gisélia) e me batizou e me comunhou e batizou meus dois filhos. O padre que participou da vida da Matriz. O padre que chegou a Matriz em uma época que as casas eram rasas (não possuíam primeiro andar ou mais) e viu crescer toda uma geração (mais de uma).

Desesperadamente e subitamente recebo hoje a notícia que o Padre Renato se foi. E de repente me vem à tona: o que sobra da Matriz? Na verdade, nada. As casas agora são prédios, ninguém se conhece mais, ninguém mais se senta na calçada aos domingos, ninguém mais se dirige ao próximo pelo sobrenome… Sou um forte, não choro, pois, tenho agora meu primo como a única porta de voltar a um passado tão recente, mas tão esquecido.

Renatão se foi, não era nem mais padre, era Monsenhor. Monsenhor Renato da Cunha. André (que não era eu), Nozinho, Wellington, Mateus, tantos outros (meninos e meninas), que participaram daquele sublime convívio, possivelmente hoje, respiraram um pouco mais forte, com a triste notícia, assim como eu. Quem será o novo padre? O Padre dos Yakissobas, das clínicas, restaurantes, cursos, dos boyzinhos, das Shinerays, da galera? Certamente não será Renato da Cunha.

O páteo da Matriz agora está maior, incomensurável, desconhecido, tem até academia, clínica de imagem. Vejo-me perdido, Pedro tu és agora o guardião do Páteo da Matriz. Pilako toma conta da Silva Jardim, Mano Holanda, A Rua de Otoni é tua, o restante que Deus nos ilumine.

André Fontes

P.S.:
* Vitória que o Tempo Levou – Edson da Costa Lins
** Last Night – The Travelling Wilburys

P.S. 2: E a Matriz também perdeu Diva Holanda.

1 pensou em “Vitória que o tempo levou…* , Last night**, ou uma pequena homenagem ao Padre Renato

  1. André Dhoydhao de Troia, meu amigo, meu irmão, sou testemunha ocular de suas palavras, lembro de sua caloi que você fez tantas acrobacias com Kilson, Glayner etc. Lembro da BMX de Jarinha fez sucesso aquela bicicleta e a monark de Geraldo Dias Junior que aprendi a andar nela. Lembro de Adriana e suas irmas Ana Claudia e Andrea bebe (todas gostosas) kkk e Fernando irmão delas é claro! Lembro do Cansaço Negro, da Funeral Radical e do Dirigível que deixamos nossas tias preocupadas (Glauber e Arlinda Xavier). Mas, como você citou, nem tudo esta acabado, levamos esse legado no coração, em nossas melhores lembranças. Um beijo no coração! de seu amigo Geraldinho

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