As drogas e suas facetas: Uma pequena nota

Morei por mais de uma década na comunidade de Lídia Queiroz Costa. Estudei no Grupo Escolar de Lídia Queiroz as primeiras séries. Brinquei pelas ruas, na época não tão populosa. Frequentei, assiduamente, por anos, a comunidade de fé com a qual comungo até os dias atuais. Depois minha família mudou para Redenção, onde vivemos. Eu transito muito entre essas comunidades, pois a maioria dos meus parentes mora, ou numa, ou noutra.

Naquela época não víamos pelas ruas tantas pessoas embriagadas e não ouvíamos tantos históricos de famílias, cujos membros fazem uso de drogas, nessas comunidades. Assusto-me quando vejo hoje um dos meninos que estudava comigo, completamente fragilizado fisicamente, emocionalmente e socialmente. Alguns estão tão mudados que se tornaram quase irreconhecíveis.

Na questão drogas / álcool  – entendo que o álcool é droga – mas o destaque é porque  esta encontra-se entre as lícitas.

Essa questão não está distante de nós; não é apenas o que aparece no noticiário. Está presente nas nossas comunidades! Na nossa vizinhança e, às vezes, na nossa família.

A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas tem proposto várias ações de prevenção, combate e tratamento, mas essas iniciativas não têm alcançado a maioria dos brasileiros, considerando que dentre aqueles não alcançados por tais iniciativas, moradores de Lídia, Redenção e entorno, são brasileiros. No ano passado ouvi por várias vezes dizerem: morreu um “bebinho”. Tornou-se comum o anúncio da morte de jovens, na sua maioria entre 15 – 29 anos, por causa das drogas. Parece até que há uma justificação moral, quando afirmam: “ele bebia” ou “ele usava drogas”. Sendo assim, foi uma escolha dele, se culpabiliza o indivíduo e a questão está encerrada. Enquanto isto, os jovens continuam morrendo. Essa compreensão precisa ser revisitada.

Mas, a faceta das drogas que quero enfatizar hoje é o lugar que as mães ocupam nessa situação. Quero dizer que muitos dos jovens que têm morrido, eu conheço as famílias.  Recentemente, conversei com algumas mães e é muito difícil ouvi-las sem ser tomada pela emoção. As mães com as quais conversei, são tementes a Deus, trabalhadoras e amam suas famílias. Ao verem seus filhos sendo cooptados pelas drogas, fizeram tudo que estava ao seu alcance, sem o suporte do Estado, para “salvar” seus filhos e fatalmente estão perdendo, ou já perderam a guerra contra as drogas, no dizer delas.

Essas mulheres estão desenvolvendo diversos adoecimentos. Elas apontaram: perda do sono, depressão, medo, ansiedade… Sem falar que muitas narram que são vítimas do preconceito da comunidade, por serem mães de usuários de drogas. São mulheres com a esperança fragilizada e que têm como única fonte de esperança o Senhor Deus.

Precisamos procurar entender com clareza o que tem conduzido os jovens a buscarem as drogas, quem são suas famílias, o que estão sentindo nesse processo e assim, demandar dos gestores Municipais, Estaduais e Federais ações que se concretizem. Ações capazes de resgatar a esperança dessas mulheres, cujas demandas estão invisibilizadas.

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Valdenice José Raimundo
Doutora em Serviço Social
Docente na Universidade Católica de Pernambuco
Líder do Grupo de Estudos  em Raça, Gênero e Políticas Públicas – UNICAP
Coordenadora do Projeto Vidas Inteligentes sem Drogas e Álcool – VIDA.
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