No tempo de eu menino – Lancheira

Isso foi no tempo da lancheira. Se levássemos pão com banana e uma garrafinha d’água, o pão era de trigo sem bromato de potássio, a banana sem agrotóxico, e a água, potável. Manteiga Turvo era comida de luxo. Ovo de galinha séria e leite de vaca decente. Nunca mais eu vi um maracujá-açu nem uma laranja-de-umbigo.

Antigamente, um pão com manteiga satisfazia;

hoje, come-se um boi, e a barriga vazia.

Havia paz, havia digestão,

as horas eram silenciosas, as tardes calmas.

e o corpo nutria-se da alma.

A minha memória olfativa pode reproduzir o cheiro dessa lancheira. A lancheira não tinha pilha, não falava nem acendia uma luzinha. Nós é que a iluminávamos com nossa poesia. Isso foi no tempo que menino brincava com o brinquedo, não via o brinquedo brincar.

Sosígenes Bittencourt

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