Pai analógico, filha digital

Outro dia, eu aluguel um táxi, e o condutor do automóvel transportava sua filha a bordo. Durante o percurso, a menina não deu um pio, plugada numa engenhoca cibernética. Quando parou o veículo, e ela saltou, começou a me fazer perguntas.

– Professor, por que esses meninos de hoje são assim?

– Assim como, cidadão?

– Minha menina amanhece o dia com dois fios enfiados nos ouvidos, de olho encatitado num computador, a gente fala com ela, é mesmo que estar falando com uma parede. Ôxe! tem hora que dá vontade de levar ela pro médico.

Era um exemplo clássico de um pai analógico lidando com uma filha digital.

E continuou: – Eu acho ela tão solitária, trancada naquele quarto, eu tenho pena dela.

Com certeza, não sabe que ela tem 500 pessoas no Facebook, e ele não conheceu 500 pessoas desde que nasceu.

No final da viagem, contei-lhe o seguinte episódio:

– Eu estava dando aula, há uns dois anos, e um aluno digital saiu-se com essa:

– Professor, a gente acha o senhor tão engraçado.

– Por que, meu filho?

– Porque o senhor dá aula olhando pra cara da gente.

Sosígenes Bittencourt

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