Matéria Especial: PROCISSÕES DA VITÓRIA – Parte 03

PROCISSÃO DO ENTERRO OU DO SENHOR MORTO – É assim denominada a procissão que, na tarde de Sexta-feira da Semana Santa, vulgarmente chamada da Paixão, acompanhava o esquife com a imagem do Senhor morto, saindo da Matriz de Santo Antão e a ela voltando depois de percorrer as ruas centrais dos dois bairros da cidade.

É a que atrai maior número de fiéis, os quais acorrem, aos milhares, vindo dos mais longínquos recantos do município.

Antes de sair a procissão, realizava-se, na Matriz, tocante ato.

No centro da nave do altar-mór, erguia-se grande cruz sobre a qual se encontrava a pregada a imagem do Cristo, rodeada de palmeiras. Era o “Calvário”.

O sacerdote rezava, com o povo, a Via-Sacra, após o que proferia, no púlpito, o chamado “Sermão das Lágrimas”, rememorando os padecimentos e a morte de Jesus.

Terminada a oração, dois Irmãos da Irmandade das Almas, revestidos de alva e com o amicto cobrindo a cabeça, representando os discípulos de Cristo Nicodemos e José de Arimatéia, subiam ao altar e retiravam da Cruz a imagem do Senhor, depositando-a no esquife, e cobrindo-a com um véu de sêda violácea e com flores trazidas, em profusão pelo povo.

Seguia o esquife debaixo do pálio, precedido pelo andor da Virgem da Soledade.

As Irmandades, puxavam o longo cortejo fúnebre, precedidas por um acólito ou “irmão” agitando a matraca. Logo após o esquife, vinham as bandas musicais tocando em funeral. Entre o esquife e o andor da Virgem, se postavam crianças vestidas de “anjos”, ou representando as piedosas mulheres e a João, o discípulo amado, que acompanhou a Virgem ao Calvário, além de José de Arimatéia e Nicodemos, um segurando uma Cruz alçada, com um lençol dobrado sobre os braços, e o outro, conduzindo uma escadinha.

Inúmeras pessoas, cumprindo promessas, acompanhavam o esquife descalças.

Ao recolher-se a procissão à Matriz, acotovelava-se o povo diante do templo horas a fio para, em fila, beijar a imagem do Senhor e obter uma flor, um ramo de alecrim, dos que cobriam o esquife, considerando-os verdadeiras relíquias sagradas. 

(REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – VOL IV – 1968 – pág. 29 a 30)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *