Tripinha de Porco

Nunca mais eu comi tripinha de porco. Diz que, agora, vem do sertão. É caro e dá trabalho, por isso um pratinho sai por 7 reais. Tripinha virou iguaria, acepipe supimpa. A macacada aguardenteira usa como tira-gosto pra botar gosto na água que gato não bebe. Tomam lapada de cana de ficar com a cara aparvalhada, embolar pelo chão.

Nunca mais eu comi tripinha de porco. Sobretudo a tripa gaiteira – das tripas, a mais saborosa, crocante e rechonchuda. Casa bem com um aperitivo, mas sem encher a cara. Cachaça é assim: na primeira, o bebarrão faz careta; daí em diante, parece ponche. Aliás, tripinha puxa por bate-bate, meropéia, whisky cru, tequila, o diabo a quatro. Diz que tudo que não presta é bom. Coisa que fede, coisa que inflama, coisa reimosa. Tudo que ofende é gostoso. No entanto, o filósofo alemãoNietzsche dizia que “O que não provoca a minha morte, faz com que eu fique mais forte.” Mas, a culpa não é do tira-gosto, é da carraspana. O cara ensaca uma garrafa de Dreher e bota a responsabilidade do chicotinho na azeitona. Vôte!

Sexta-feira, eu vou pedir tripinha de porco. Vou tomar com vinho, imitando o deus Dionísio. Dionísio era pior, o deus Baco, que comia carne de cabrito cruazinha e bebia sangue de porco, com um bando de mulheres sebosas, no meio do mato.

Sosígenes Bittencourt

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