Fala, Vitória: A última festa


Este é o portão da garagem da casa de minha genitora, professora aposentada, aos 76 anos de vida, enfrentando os achaques da velhice e naturalmente precisando de sossego. Sábado, à tardinha, o alvoroço era enorme por conta de festa que iria acontecer no Clube dos Motoristas O Cisne, quando 3 conjuntos se apresentariam, para lucro e distração de uns e insônia dos moradores do bairro. Um caminhão que carregava apetrechos para o local do evento, pilotado por um senhor completamente embriagado, veio de ré e enfiou-se no portão, danificando também o carro de minha sobrinha estacionado ao lado. Se o meu menino, de 14 anos, não tem saído da frente, hoje estaríamos contemplando seus retratos. O patetê já está nas mãos da Promotoria da Cidadania e nas Pequenas Causas. Não obstante, a festa rolou até às 7 horas da matina, sem Pai Nosso de penitência. O pessoal saiu na maior algazarra, bradando palavrões, esfregando as virilhas, urinando nas calçadas, deixando um vendaval de lixo no ar. Tubinho de loló, camisinha de vênus, copo descartável, caco de vidro, o diabo a quatro. Bendito era o Cabaré de minha mocidade. Nunca vi ninguém dar uma tapa num gato. Outro dia, deram um pau num adolescente na frente desta mesma garagem que a empregada passou meia hora esfrengando o sague coalhado da vítima. Por isso, acabaram com festa no Golden Gol e na AABB. A pergunta é a seguinte: Será que os promotores dessas festas gostariam desses expedientes na frente de suas residências? Esperamos que essa tenha sido a derradeira anarquia aqui no bairro.

Esperançoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

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  1. Eu particularmente tenho pena dos meus filhos. Pois do jeito que a coisa anda, quando eu tiver meus filhos e eles estiverem na idade de aproveitar a juventude e ir para algumas festas, eles não terão opção em nossa cidade. Primeiro proibiu-se festa no AABB, depois no Golden Goal e agora no Clube dos motoristas, futuramente a gamela. Festas essas que eram promovidas esporadicamente em clubes antigos como o cisne e o AABB. Se um ou outro aproveitam-se das festas para se drogar seja com loló ou outro tipo de droga a culpa não é do evento que por sinal revista cada pessoa antes da entrada na festa. E sim das autoridades que falham no combate ao narcotrafico.
    Pois bem, encomodo por encomodo tenho certeza que os encontros religiosos (sejam eles de qualquer denominação religiosa) que ocorrem no colégio pedro ribeiro praticamente todos os finais de semana encomodam muito mais e nem por isso fez-se abaixo assinado. O que não se pode é punir uma maioria por causa de um comportamento arbitrário de uns ou outros, pois tenho certeza que essas festas são frequentadas por pessoas de bem.

  2. Eu também gosto de festa. Bebo e danço desde que me entendi de gente. No meu tempo, minha geração saía dos clubes, de madrugada, com a camisa enrolada no pescoço, e ninguém tinha medo de levar um tiro. O mundo era calmo, a vida sossegada. Só se tinha medo de assombração, alma do outro mundo. Hoje, os fantasmas são verdadeiros, sonhamos sendo linchados, assassinados, o pânico virou nossa sombra. Infelizmente, essa é a dura realidade. O Brasil mata 50 mil pessoas por ano e não está em guerra com nenhum vizinho continental, é guerra intestina. A questão não está nas armas, está na alma.
    Apavorado abraço!

  3. O problema não é a festa, pois nós precisamos de diversão, o que tá faltando é um local apropriado pois o Cajá é um bairro residencial, enquanto uns “esfregam as virilhas” outros estão tentando dormir para ir trabalhar no dia seguinte, e como se não bastasse quem mora nas ruas próximas não pode sair de casa e se sair não entra por que não respeitam as garagens, sem contar que de madrugada ao terminar a festa os moradores tem que levantar e lavar a frente da casa pois está empreguinada de “Lê Mijê”, detalhe tem que fazer sorrindo, já que as reclamações de nada servem.

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