O Veneno das Mulheres

 

“O Veneno das mulheres”. Com este título, o Lidador, no início da década de trinta, exatamente, no dia 14 de janeiro de 1933, publicava, em sua primeira página, o resultado de  uma pesquisa, vindo da Áustria. Essa pesquisa estabelecia, melhor diria, tentava estabelecer uma base científica, sobre uma escabrosa mentira contra o sexo feminino. Velha mentira que remontava ao tempo de Moisés. O Levítico, um dos livros do Antigo Testamento, trata com detalhes sobre o tema e estabelece até normas de comportamento. A mulher, de acordo com o artigo, secretaria no período menstrual, um hormônio capaz de prejudicar o comportamento e a fisiologia dos que a cercavam. Essa afirmação foi proferida por um cientista austríaco, Schick, que deduziu através de suas pesquisas que as mulheres durante a menstruação secretavam um hormônio, o menotoxina. O dito cujo hormônio tinha efeitos espantosos sobre a fermentação e sobre os seres vivos, vegetais e animais.  Uma mulher, que menstruada estivesse, a bater a massa de um pão  ou de um bolo, não conseguia fazer a massa crescer. O menotoxina inibia a ação do fermento. As flores desvaneciam-se e até mesmo  os animais sofriam modificações em sua fisiologia. Essa teoria, da ação negativa do menotoxina impregnou-se no subconsciente popular e foi incorporado à nossa cultura. Hoje, sabemos  que tudo isto é falso, não passa de crendice e superstição.

Lendo este artigo rememorei o dia em que o destilador do  engenho Cacimbas não me permitiu ingressar na destilaria com algumas amigas. Na ocasião não entendi a razão da proibição. Queixei-me ao meu pai da decisão do destilador. Para mim era um absurdo ele impedir nosso ingresso na destilaria. Meu pai ponderou que uma, entre elas,  poderia estar no período menstrual e a fermentação estaria comprometida.  Infelizmente, esse conceito permanece ainda hoje no meio rural. Um vaqueiro da fazenda  Teju não  fazia tratamento, nem nenhuma outra intervenção no gado, quando sua mulher menstruava. Dormindo ao seu lado, sentia-se contaminado.

Pedro Ferrer

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