Vida Passada… – Felix Peixoto – por Célio Meira

Aos quinze anos de idade, Felix Peixoto de Brito e Melo, recifense, era alferes, sob o comando do valoroso José de Barros Falcão de Lacerda, nos campos de Pirajá. Regressando ao torrão nativo, ouvindo a palavra inflamada e apostólica de Frei Caneca, e sentido, no espirito, o desabrochar da rebeldia republicana,  informa Pereira da Costa, “o mestre de nós todos”, alistou-se, patrioticamente, nas fileiras dos sonhadores da Confederação do Equador. Derrotado e Anistiado, abandonou a carreira das armas. Ingressou no comercio, e dedicou, aos livros, as horas de suas noites.  Concluiu os preparatórios, matriculou-se no Curso Jurídico de Olinda, e em 1834, obteve a carta de bacharel, na mesma turma de Ângelo Ferraz, o futuro barão de Uruguaiana, de Basílio Torreão, de Pereira da Graça Junior, que seria, mais tarde, o barão de Aracati, de França e Leite, “deportado, em 1842, narra Clovis Bevilaqua, em consequência dos movimentos revolucionários de Minas e São Paulo”,  e de Urbano Sabino Pessoa de Melo, um dos raros historiadores da Revolução Praieira.

Diplomado, seguiu a magistratura, exercendo a judicatura no Brejo da Madre de Deus e no Recife. Deputado pela sua província, de 1836 a 1842, governou, anos depois, a província das Alagoas, revelando-se administrador inteligente e honesto. Quando subiu, ao poder, o gabinete conservador de 29 de setembro de 1848 sob a chefia dos pernambucanos Marquês de Olinda, Felix Peixoto representava Pernambuco, na deputação geral sob a bandeira das hostes liberais. Desencadeada a revolução praieira, o antigo soldado dos combates, na Baia, o integro e sereno magistrado, conta Pereira da Costa, assumiu o comando geral das forças rebeldes, e atacou o Recife. Não obtendo Vitória, refugiou-se nas Alagoas, voltando, depois, a Água Preta, onde se organizou o Diretório da Revolução. Coube a esse intimorato recifense a presidência do Diretório, tendo ao lado,  nos postos de confianças,  informa Rocha Pombo, os praieiros Antônio Afonso Pereira de Morais e Borges da Fonseca . Triunfante o governo da coroa , exilou-se, em Lisboa, esse liberal pernambucano. Foi mais tarde anistiado. E mereceu a nomeação de Cônsul do Brasil, na terra espanhola. Anos decorridos, regressou a pátria para rever amigos e matar saudades.

E estava no Recife, feliz, e na esperança de voltar ao consulado,  quando, na manhã do dia 13 de janeiro de 1878 sentiu doente. Tinha febre. À tarde, sobreveio uma congestão pulmonar, e à noite,  morreu. Desapareceu, aos 71 anos, no dia em que passava o 53º aniversário do arcabuzamento de Frei Caneca, o desditoso companheiro na Confederação do Equador. Adormeceu o ardoroso praieiro, no seio da terra onde nasceu.

Esperava-o, já, na eternidade, Joaquim Nunes Machado, o bravo de Goiana.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

 

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