A Historiografia de Kléber Mendonça Filho – por Raphael Oliveira

Aqui no blog do Pilako, já tivemos uma ótima análise do filme Bacurau feita por André Carvalho, onde ele aborda em termos gerais esse filme maravilhoso, que aliás, conquistou o seleto Júri do Festival de Cannes, se sagrando o primeiro filme Brasileiro a ganhar a premiação nesta categoria (Prêmio do Júri). Eu não vou fazer uma nova análise deste filme, mas eu quero chamar a atenção para um recorte da obra, uma cena que pra mim é determinante para o desenrolar da trama e que passa uma mensagem profundamente verdadeira, que me fez ter uma reflexão do quão importante é a nossa história e de como ela está cada vez mais sendo deixada de lado, e principalmente quais as consequências disso, afinal Bacurau se passa num futuro distópico porém profundamente ligado ao nosso presente.

Esta cena a qual me refiro é quando os dois motoqueiros chegam na cidade de Bacurau com a missão de colocar o equipamento que bloqueia o sinal de celular da cidade inteira, a primeira coisa que os dois fazem quando chegam na cidade, é ir ao bar e tomar umas bebidas, onde disfarçadamente eles instalam o bloqueador de sinal, eles chamam bastante atenção por conta de suas motos barulhentas, e suas roupas de trilha, que são um tanto quanto extravagantes. Talvez numa tentativa de mostrar o “valor” daquele pequeno lugar, os moradores logo oferecem a oportunidade deles conhecerem o museu da cidade de Bacurau, para que eles pudessem conhecer a história daquele povo, que obviamente era motivo de orgulho para cada um que estava ali naquele momento. Imediatamente os dois forasteiros se negam a conhecer o museu, dão uma desculpa qualquer e como já tinham cumprido a missão de bloquear o sinal de celular com o aparelho instalado embaixo de uma das mesas do bar, eles vão embora e a trama segue a partir daquele acontecimento. Aí vem o ponto que pra mim é o determinante da trama.

Se eles fossem ao museu iriam descobrir a história de luta de um povo que estava estampada e exibida no museu através de armas antigas expostas como um troféu que expressavam a força de um povo sertanejo, que ao mesmo tempo que eram pacatos também poderiam ser extremamente viscerais quando se sentissem ameaçados, aquele arsenal do Museu da Cidade de Bacurau foi o que salvou aquele povo, a história renegada pelos forasteiros, foi o que salvou aquele povo, ao mesmo tempo que a preservação daquela história foi o trunfo determinante para a vitória no confronto final.

Para mim, esse é o recado que o diretor Kléber Mendonça filho passa nesta cena do filme, quanto mais se renega a história de um povo, menos empatia se tem por ele e menos se conhece daquela realidade. Ao contraponto que a salvação da cidade de Bacurau, foi justamente a preservação de sua história materializada naquele arsenal bélico, o orgulho do seu passado salvou o seu futuro. Que essa ficção nos inspire e nos ajude a preservar o
nosso passado, para que o nosso futuro não seja tão sombrio.

Raphael Oliveira – Historiador, Analista de Sistemas, Radialista/Podcaster, metido a escritor. 

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