Momento Cultural: Grito da Juventude – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

Ao longo da estrada,

à margem do caminho,

topei numa pedra,

cotovelos apoiados aos joelhos

e mãos o rosto encobrindo.

Cautelosamente,

aproximei-me devagarinho,

daquela criatura

que ali estava

como que concentrada

a meditar…

talvez, quem sabe?…

– uma alma envolta na cerração

Do mais cruciante abatimento,

carpindo bem triste solidão,

presa aos grilhões do sofrimento

E ali, esperando fiquei

té que aquele alguém falasse

e se pronunciasse…

Era preciso esperar, Senhor!

E, enquanto o silêncio perdurava

entre os dois,

pude, extasiada,

contemplar a tarde

num cenário de beleza

no palco da Natureza.

– o Sol, rubro agonizando

no Ocaso, a estrertorar

enquanto

num saudoso pipilar

que se confundia

como o toque da Ave Maria,

o passaredo, o espaço entrecortando,

os ninhos buscavam regressando.

E, ali, estacionada permaneci

Aguardando a sua voz.

De repente…

eis que, o rosto descobrindo,

meio sobressaltado,

pude contemplar

aquele alguém

a quem

eu quisera tanto

a sua dor amenizar

Logo perguntei: – Quem és?…

E ele, enfaticamente, jogando a basta cabeleira:

– Sou a Juventude…

essa juventude (segundo afirmam):

“transviada”… “má”, “fútil”… leviana…

cuja vida – um conflito!…

e, nessa luta insana,

fracassada, desiludida,

mas… gargalhando como o palhaço

sem jamais saciar

a sua sede de Felicidade,

vai em busca das tavernas,

beber, fumar, jogar,

e… numa ânsia incontida

disfarçando os seus fracassos, a sua Dor,

ei-la que se atira

cantando, sacacoteando

a fazer o “passo”

à loucura bacanal

do carnaval.

E por repudiada no seu idealismo,

a juventude sente,

no vazio coração

(todo egoísmo, toda ambição),

que algo lhe está faltando,

algo essencial,

sublime… (sei lá)!

– Algo que amenize os dias seus…

(respondi incontinente):

– Está lhe faltando – Deus!

– Não! (refuta o moço)

a Juventude ainda crê…

apesar do abismo que a ameaça

ela exclama, olhando o Infinito:

– Senhor, escuta a nossa prece,

prece de jovens esquecidos,

incompreendidos,

famintos de apoio e proteção,

de tolerância e sobretudo,

de… Amor!

Vê, Divino Amigo:

a mor parte dos pais

não nos compreende…

recusam dissipar as nossas dúvidas,

resolver os nossos problemas,

e, jamais querem ser nossos confidentes,

nossos melhores amigos!

– Também, na nossa Faculdade,

não Te encontramos, ó Deus!

Porque o ambiente estudantil

sempre hostil,

(pura atmosfera de laicismo)!

nada mais é

que um triste baquear da Fé!

– Eles, os mestres,

eles, os nossos amigos

não nos mostraram a tua Face…

Mas!

E os jovens que já andavam fracos,

quase sucumbiram, Senhor,

sob a influência dos outros,

dos maus,

durante muito tempo!

E, a “uma voz”

Resolveram então,

com os companheiros desajustados,

exigir dos governantes

as suas reivindicações

os seus direitos postergados…

Norteada, erradamente,

pela estrela vermelha

do Comunismo dissolvente,

a Juventude vacilante,

longe da senda do Bem,

assim, exaltada,

desenfreiada,

não soube pedir!…

– Saiu a gritar, a plenos pulmões,

em praça pública,

amotinada,

declarando greves,

depredando, apupando, vaiando…

– Daí, Senhor,

quase tudo perdido

e, pouco ou nada conseguido!

E agora?…

Resta-nos as prisões, duros castigos

em represália!

– Por quem És, ó Deus,

transforma o coração da gente,

– o coração altivo da Juventude

conservando-o intangível

aos ataques do Mal!

e, numa Altitude, bem ao lado Teu,

ela saberá, mais forte, regenerada,

feliz, instruída, varonil

tornar mais glorioso o Brasil!

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E o jovem quedo, silenciou!…

– Obrigada, Juventude, (disse-lhe eu).

Agora o meu conselho previdente,

amigo, experiente:

para seres sadia e venturosa,

para na vida, feliz, sempre venceres,

continua a pedir, a gritar,

mas… com toda prudência

e veemência

da tua força jovem:

– Queremos Luz, Senhor,

e dos homens compreensão

e, sobretudo – Amor!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 55 a 59).

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