Composta, especialmente, num preito de homenagem a nossa querida e decantada “Veneza Brasileira” na passagem dos seus 350 anos de fundação.
Século XVI…
Ano de 1630
Na ilha do Mosteiro de Santo Antonio!
Qual rico é precioso patrimônio
invadida foste, Recife, por Nassau,
quando, havias surgido para a luz da vida,
te escravizaram, nova “Terra Prometida”,
enquanto o nome teu – suave melopeia
trocou, o holandês, pelo o de “Mauricéia”!
Salve, Recife, “Veneza Brasileira”
Nesga do Brasil, Norte Oriental!
em ti, eis que, Duarte Coelho Pereira
concretizou, feliz, o seu Ideal!
Eu te saúdo, Recife,
no murmurar sonoro dos teus rios:
– O Capibaribe e o Beberibe a cantar,
ou revoltos, em forte assobios,
até que se vão, no Oceano, desaguar!
Amo e venero, Recife:
de teus filhos, o Valor e o Heroísmo
em lições eloquentes de Civismo
que, ciosos, os Museus sabem arquivar
e à posteridade ser dado consultar!
Amo-te, Recife, porque
a tua História bonita me fascina
e empolgar, afaz, a minhalma de menina!
Licença, Recife!…
Transporto-me, agora, a “Marim dos Caetés”,
onde a vaga espumante, vem beijar-lhe os pés!…
dela, enamorado, e, distante, ainda,
Duarte Coelho exclamou: – “Ó linda”!…
antes, fora capital, rica, potentada,
pelos holandeses, depois, incendiada!…
– Que ouço, Recife? – A repercussão de um eco…
Ah! Já sei, muito bem, do que se trata,
– um feito que me enleva e arrebata:
– Bernardo Vieira, dando, no Velho Senado,
da Liberdade, na América, o primeiro brado!
Logo, o teu gênio indomável se reflete
na brava “Revolução de Dezessete”,
surgindo a “Confederação do Equador”
contra a Constituição e o Imperador,
entre outros, com Frei Caneca fuzilado
que, da Pátria, torna o amor mais acendrado!
E, na tela do meu cérebro sonhador,
de Nunes Machado, a figura altaneira,
veio tombar na “Revolução Praeira”!
Em Maria de Souza, Recife, eu te saúdo,
a mãe, que, a Pátria os filhos dando, deu-lhe tudo!
Amo-te Recife:
na “Insurreição Pernambucana”
que provocar fez, a luta insana
que extinguiu, no Brasil, do ousado invasor,
de vinte e quatro anos, o jugo opressor!
Amo-te, no “Clube do Cupim”, organizado,
para, na escravidão, dar o golpe planejado!
Amo-te, Recife, na Figura imortal
do teu grande Bispo – o heroico, D. Vital!
Sim, amo-te:
– Filha primogênita do “Leão do Norte”
que, rompante, a rugir, saber enfrentar a morte
se, as suas fronteiras vem transpor
o perigoso e ousado invasor!
Es bela, Recife,
no areial das tuas praias, contrastando
com os esguios coqueiros farfalhando!
E, ainda,
co’as velas brancas, ao vento, enfunadas,
dos pescadores, rústicas jangadas!
És bela, quando, em noite de luar,
num abraço, a Lua, se envolve ao mar!
– Amo-te, Recife, na voz altiloquente
dos teus monumentos que, ao coração da gente
desvenda todo um Passado, cuja Glória
foi registrada nos Anais da História!
E agora?… Ouço, um chiar de rodetas…
Ah! já sei!…
Vem do teu primeiro engenho aparelhado,
Pela “Senhora da Ajuda” patrocinado!
Em cada recanto teu, deparo, orgulhosa,
ora com um “marco” ou “fortaleza” gloriosa!
Eis que, Recife,
de “Massangana”, engenho de Pernambuco,
para a vida, surgiu, Joaquim Nabuco,
que, um dia, do imperial palácio, no gradil,
declarou: – “não há mais escravos no Brasil”!
– Outrora, Recife, (quanto romantismo)!…
dos jovens estudantes, à doce amada,
as “serenatas” ao luar da madrugada!…
– Ouço, Recife, que melodia!
das torres dos teus Tempos, a apontar os Céus
os sinos convidando a bendizer a Deus!
Admiro, Recife:
os teus palácios suntuosos,
teus edifícios na vertigem das alturas
contrastando com a miséria e as agruras
dos mocambos infecciosos!
– Admiro as tuas moças tão bonitas,
nos passeios, se expondo tão “catitas”!
– De joelhos, admiro os teus artistas,
sejam poetas, músicos ou pintores
que, da Glória, te levam aos esplendores
em tão sublimes e imortais conquistas!
Amo, Recife:
As tuas Forças Militares que mourejam
em terra firme ou singrando os mares
ou, mais ainda, devassando as ares
que, para nos defender, bravas pelejam!
Recife, querido:
És um rubi mimoso
fulgente, esplendoroso
sangue irisado
– sublime Legado
a uma forte raça,
a brilhar sem jaça,
assim, engastado
entre valores mil,
na coroa real
cintilante, imortal
deste caro, Brasil!
Recife, decantada,
admirada
na estrutura mágica das tuas pontes…
– Recife, toda enfática, a dançar o “charchado”
típico, sertanejo,
Recife, do folclore mais insinuante do Nordeste
Brasileiro e, porque não dizer? do mundo inteiro!
Recife, de brisas cariciantes,
de coqueiros farfalhantes
a enfeitar as praias brancas
arenosas,
deliciosas!
– Recife exaltada, civicamente, através do ritmo
cadenciado dos passos dos nossos Soldados e colegiais na
Data Magna da Pátria Brasileira.
– Recife, Relicário sagrado de mártires e de heróis, escuta:
– Aqui, no peito, cessou o meu épico cantar
porque agora, deve a Lira silenciar!
(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 28 a 31)