Curiosidades musicais: Martinho da Vila

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Nasceu no sábado de um chuvoso carnaval, em 12 de fevereiro de 1938, em duas barras no Rio de Janeiro.

Um dos maiores sambistas do Brasil, até hoje, Zé Ferreira ou simplesmente (Martinho da Vila).

Aos quatro anos mudou-se com a família para Serra dos Pretos Forros, que ficava na Zona Carioca conhecida como boca do mato. Filho de Dona Tereza e Josué Ferreira, seu pai um misto de agricultor assalariado e guarda-livros em fazendas do estado do Rio, transferia-se para a Capital achando que a condição de vida iria melhorar. Mas puro engano. Na cidade do Rio a família só fazia piorar, mesmo com todos trabalhando, com suas quatro irmãs, o menino fazia a faxina em casa de família, limpava caixas de gorduras, vendia estrume para adubação – só não gostava era de engraxar sapatos – recorda Martinho. Josué Ferreira via a miséria de seu lar com crescente desespero. Até que não suportou mais e se matou.

Quando garoto, Martinho desenvolveu um profundo sentimento religioso. Não perdia uma missa e aceitava com prazer a ideia de se tornar padre.

Já na adolescência, o futebol de Várzea começou a afastá-lo da igreja. Autor da marchinha da torcida do clube, acabou ingressando na ala de compositores da escola de samba Aprendizes da Boca do Mato.

Filho de lavradores da fazenda Cedro Grande, em Duas Barras no Rio. Quando se tornou conhecido, voltou a Duas Barras para ser homenageado pela prefeitura em uma festa, e descobriu que a fazenda onde havia nascido estava à venda. Não hesitou em comprá-la e hoje e o lugar que chama de “Meu off-Rio”. Logo tornou-se um dos mais respeitados artistas brasileiro, além de um dos maiores vendedores de disco no Brasil, ultrapassando a marca de um milhão e meio de copias com o CD Tá Delícia, Tá Gostoso, em 1995.

Contudo, tornar-se compositor profissional não era sua meta. Terminando o primário, ele procura o SENAI para fazer o curso de Mecânica, “Eu achava bonito andar todo sujo de graxa”. Pelas aptidões demonstradas, foi induzido a tornar-se auxiliar de química industrial, habilitando-se a trabalhar em farmácias, laboratórios e perfumarias.

Durante o serviço militar, designaram-no para a farmácia. Novos cursos levaram-no a ser promovido a Cabo e depois a Sargento. Um amigo conseguiu-lhe uma transferência e durante dez anos Martinho seria Sargento Digilógrafo do Ministério da Guerra. Abandonou o exército em 1970, quando deu baixa para se tornar cantor profissional.

Anália Mendonça, foi a primeira mulher de Martinho. Deu-lhe três filhos, Martinho, Analimar e Mart’nália  e inspiração para composições de sucesso, como Iaiá do Cais Dourado (Samba-enredo da Unidos de Vila Isabel, em 1969). Martinho separou-se de Anália e adotou por companheira Lícia Maria Maciel Caniné, com quem teria mais dois filhos: Juliana e Antonio João Pedro. Lícia ajudou a vencer a insegurança, insistiu até convencê-lo a licenciar-se do exército e dedicar-se apenas a sua carreira artística.

– Ela me deu um nó do caramba. O Marcus Pereira deu uma tremenda força, mas foi Ruça que comprou minha carreira.

“Ruça” é o apelido carinhoso que Lícia recebeu por seus cabelos loiros, “descorados”.

Pai de oito filhos e avô de sete netos, Martinho conservou o estado civil de solteiro até conhecer a jovem Clediomar Corrêa Loscano que é conhecida como Cléo e Martinho a chama de Preta Pretinha, 33 anos mais jovem que ele. Sua carreira artística surgiu no III Festival da Record, em 1967, quando concorreu com a música “Menina Moça”. O sucesso veio na ano seguinte,na quarta edição do mesmo festival, lançando a canção “Casa de Bamba” um dos clássicos de Martinho. O primeiro disco, lançado em 1969, intitulado Martinho da Vila incluindo, além de “Casa de Bamba”, obras primas como “O pequeno Burguês”, “Quem é do Mar não enjoa”, “Pra que dinheiro”…

Sua história de prêmios está no Rico acervo na sua cidade natal Duas Barras, em sua carreira musical ganhou em 1991 o prêmio Shell de Música Popular Brasileira.

Também envolvido nos enredos da escola, criou o “Kisomba a Festa da Raça”, que está entre os mais memoráveis da história dos desfiles, e garantiu para a Vila Isabel em 1998 seu consagrado Título de campeã do Grupo Especial.

Além de cantor e compositor, Martinho é escritor e autor de nove livros.

O Pequeno Burguês

Gravado em 26 de maio de 1969. Inspirado num problema que estava atingindo seu amigo Xavier, que fazia faculdade de Direito em Niterói.

Definitivamente conhecido o pequeno Burguês:

“Felicidade passei no vestibular

Mas a faculdade é particular”

Foi Xavier, um amigo recém formado em Direito, que inspirou o samba:

– A gente fez uma vaquinha para comprar o Anel dele, mas no dia da festa de formatura, nada de convite. Todo o mundo começou a achar que ele tinha virado Burguês, não queria mais falar com pobre, depois eu descobri que não, que ele estava mesmo é duro. Nem participou da festa de formatura…

O PEQUENO BURGUÊS

Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
É particular
Particular!
Ela é particular
Particular!
Ela é particular…

Livros tão caros
Tanta taxa prá pagar
Meu dinheiro muito raro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar…

Morei no subúrbio
Andei de trem atrasado
Do trabalho ia prá aula
Sem jantar e bem cansado
Mas lá em casa
À meia-noite
Tinha sempre a me esperar
Um punhado de problemas
E criança prá criar…

Para criar!
Só criança prá criar
Para criar!
Só criança prá criar…

Mas felizmente
Eu consegui me formar
Mas da minha formatura
Não cheguei participar
Faltou dinheiro prá beca
E também pro meu anel
Nem o diretor careca
Entregou o meu papel…

O meu papel!
Meu canudo de papel
O meu papel!
Meu canudo de papel…

E depois de tantos anos
Só decepções, desenganos
Dizem que sou um burguês
Muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo
De um pobre coitado
E quem quiser ser como eu
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado…

leo

 

Leo dos Monges

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