Sábado, precisei ir ao comércio e tive que passar pela Feira Livre da cidade. Ao caminhar por entre as barracas, pelos labirintos de bugigangas, hortifrutigranjeiros e tarimbas de carne, senti uma sensação alarmante de subdesenvolvimento e desassistência. A feira é a mesminha da década de 60. Observe que são décadas de discursos políticos de almas que se perpetuaram, enricaram e morreram no poder. Afora a onda de emoções, registrada pela memória, o resto é atraso. As barracas desalinhadas, pessoas se acotovelando em marcha funeral, carros de mão atropelando as canelas, murmúrios, fuxicos, risadagens, gritos de preços e pechincha. Como vai tua mãe? O teu avô ainda é vivo? De quem é esse menino? Fulana casou?
Na ladeira do abacaxi, um cidadão gritava, podando a barbatana da fruta com a faca-peixeira: – Bora, bora, bora, compra, compra, que eu tô doido pra ir pra casa!
O teatro é medieval, na era do chip, da cibernética, no milênio do Saber e daComunicação.
Forte abraço!
Sosígenes Bittencourt
