A virtude está no meio.

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Recentemente, li no Diário de Pernambuco, na secção opinião, um artigo de autoria do Desembarcador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima, com título: A VIRTUDE ESTÁ NO MEIO. Pelo fato de ter achado muito bom. Gostaria, então, de compartilhá-lo com os amigos internautas do Blog do Pilako.

A virtude está no meio

PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA
DESEMBARGADOR FEDERAL

“A voz do povo é a voz de Deus”, diz-se. E é esta uma forma de concluir como normalmente acerta a chama da sabedoria popular. No Brasil, no entanto, esquecemos um dos mais simples e acertados aforismos populares: “A virtude está no meio”. Somos um País de extremos. Aliás, também o é a própria humanidade com sua dialética histórica, onde os contrários (tese e antítese) se sucedem, produzindo uma síntese que se tornará uma nova tese, e assim sucessivamente. Queremos liberdade e tão logo a obtemos, sentimos falta da ordem. Mas uma vê instalada a ordem, passamos a querer a liberdade. E, desenganadamente, sempre haverá falta de liberdade onde houver excesso de ordem e ausência desta onde aquela imperar.

Exemplos deste amor aos excessos têm-se nos dias de hoje com o combate ao fumo, com a lei seca e com a do desarmamento. Ninguém deseja receber a fumaça doentia dos cigarros alheios e muito menos viver em tempos de faroeste americano, com pessoas portando acintosamente revólveres na cintura. Não se deseja, também, motoristas bêbados, a fazer do automóvel uma arma letal, mutilando e assassinando inocentes. Mas a busca de remédios para estes males trouxe excessos que ninguém desejava. Ou, pelo menos, não os desejavam as pessoas equilibradas.

As proibições, excessivas no seu absolutismo e pouco eficientes em face da parte da população que as respeita, periga fazer o paciente morrer do tratamento. Desarmada a população ordeira, os verdadeiros bandidos tornaram-se muito mais audazes. Certos da impossibilidade de reação das vítimas indefesas, afinal ninguém pode enfrentar, com punhos, um facínora armado de revólver, os malfeitores invadem domicílios, consultórios, casamentos e funerárias, fazem arrastão pelas ruas centrais das cidades apavoradas e, no Recife, nos dias de intensas chuvas, o próprio Governo, numa confissão de falência, recomenda ao cidadão que fique em casa para não ser assaltado nos semáforos e engarrafamentos. Ou seja, a lei do desarmamento somente desarmou o homem probo, o honesto, o pacífico, aumentando o poder de fogo dos violentos.

O mesmo está se dando com a lei seca. O motorista responsável já não conduz seu carro quando vai a um jantar, a um casamento, a uma festividade qualquer. A ingestão de uma taça de vinho, de uma dose de whisky, quiçá de um bombom recheado de licor, pode levá-lo a perder a certeira de motorista, a liberdade e até a dignidade, transformado em criminoso. De outra banda, a cada manhã os noticiários alardeiam desastres e atropelamentos causados por motoristas embriagados que pouco se importam com a lei seca, que continuam a beber em excesso e dirigir sem cerimônia. Em suma, a lei só está sendo observada (e atrapalhando, e muito) pelos os que não precisam de correção. Quando vamos aprender que todo excesso é pernicioso e que a virtude está no meio?!

(DIARIOdePERNAMBUCO – Recife, domingo, 30 de junho de 2013 – pág B11)

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