
Fazer do patrimônio histórico de uma cidade um modelo de especulação imobiliária é talvez uma das mazelas atuais mais degradantes que eu percebo. Arquitetos bem intencionados, em ganhar dinheiro, criam formas extravagantes para tentar mostrar que sua criatividade é pós-moderna, mas destroem e deturpam o nosso bom e velho modelo arquitetônico antigo que caracteriza uma época e fazes da nossa história. O mercado de farinha está rodeado de barracas e bares, amontoando lixo e gritarias de produtos paraguaios ou chineses, sem xenofobia, esses produtos são de qualidade duvidosa. A Praça da Bandeira e a 13 de maio virou: praça da bandalheira, a Duque de Caxias: estacionamento; a Leão Coroado: lava jato público durante o dia e noite motelzinho 3 de agosto, que beleza! Outro absurdo é o fato de que em nossa bandeira, a da cidade, tem um desenho do Monte das Tabocas. Onde fica? Como se vai até lá? Tem Transporte pra chegar nesse lugar tão importante? É o nome da cidade Vitória (da batalha do monte das tabocas) de Santo Antão. Se um turista chegar e perguntar: como se chega até o ponto mais importante da cidade? A resposta deve ser : (1) vai andando pela estrada que vai prá Glória do Goitá, lá na frente tem uma placa dizendo Monte das Tabocas vá andando, andando… e feliz. Lá você vai encontrar muitas belezas, museus abandonados, rios poluídos, escolas onde os alunos em dia de chuva não chegam até ela, placas informativas onde não se entende nada o que está escrito, um verdadeiro paraíso histórico; ou (2) se for a um bêbado que o turista perguntar, ele vai dizer que o ponto mais importante da cidade é o engarrafamento Pitú.
De quem é a culpa? Deve ser dos Holandeses que foram por ali fazer guerra por isso tá tudo destruído, bala pra lá, bala pra cá, e deu nisso. Só pode ser. João Fernandes Vieira deve ter morrido de vergonha. Mariana Amália quem sabe? Deve ser a diretora do colégio perto da Escola Polivalente José Joaquim da Silva Filho, agora EREM. Pedro Ribeiro? só no hino, nosso fiel soldado, pouquíssimas pessoas sabem o que ele fez e quando. O Leão Coroado? Só pode ser o Sport Clube Recife.
Quando morava em Recife, mas precisamente na Casa do Estudante Universitário, tive a oportunidade de ver a realização do projeto de reconstrução da casa de João Fernandes Vieira, e como os alunos de História e todo departamento se empenhavam em buscar naquele lugar, vestígios de uma época passada que precisava ser resgatada. Essa casa fica por trás do Teatro da UFPE.
Finalmente, deveria haver em uma cidade um órgão, secretaria, ou qualquer coisa que o valha, que prezasse por esse acervo físico arquitetônico, para ser tombado, e de se criar uma multa para quem depredasse ou adulterasse essa parte tão importante da vida de uma cidade que é seu Patrimônio Histórico. Aliando a isso, ainda tem o zoológico da cidade abandonado, o prédio do mercado público na feira, o abandono das calçadas feitas para pedestres e não para barracas de tudo que ser vender, até bebida alcoólica na frente de colégios. Vou embora pro passado senão o futuro chega e traz um presente de grego.
Franklin Ferreira
Professor de Química

Muito bom, Franklin. Veja que negócio da China fizemos ao expulsar os holandeses daqui e hoje deixarmos nossa cidade nas mãos dos Querálvares, dos Queiroz e dos Liras. Já que nossa cidade possui uma Secretaria de Turismo e Cultura (com um secretário muito bem remunerado, diga-se de passagem), que tal criarmos também uma Secretaria da Neve, da Praia, do Metrô, dos Aeroportos, e de outras coisa mais que não existem por aqui???